domingo, 18 de dezembro de 2016

A mulher sem palavra

p/ Carol

Carolina inicia o projeto de um (des)dicionário colaborativo. Nesse processo, convida pessoas a elegerem um verbete como inspiração, com o qual produzirão uma narrativa. Informada sobre os escritos de minha mãe, fez a provocação: pede a ela para escrever sobre um verbete?

Expliquei a minha mãe, e perguntei se ela gostaria de escrever alguma coisa sobre um verbete que ela mesma poderia escolher. O que é um verbete? Falei que era uma palavra a integrar o dicionário. Ela disse, então, que poderia escolher o verbete palavra. Posso escrever alguma coisa sobre a palavra? Rimos. Pode, sim!

Com a saúde fragilizada, depois de uma internação hospitalar longa, no início de 2016, ela interrompeu a rotina de escrever, como fazia antes. As palavras começam a lhe escapar... Com uma deficiência respiratória significativa, tem que escolher entre escrever ou respirar... Coisa estranha, essa apneia que ela tem. Respira pouco, curto. E quando se concentra para fazer alguma coisa, piora tudo: ela para de respirar. Vai daí que o coração trabalha forçado há quanto tempo, e já vai fraquejando também. Tem, ainda, um barulhão na cabeça. E a memória, também, começa a falhar mais amiúde. Ando tão esquecida, minha filha, reclama. E anda mesmo. Por isso, imaginei que logo ela se esquecesse da encomenda, e acabasse não produzindo a tal escrita sobre a palavra... Por isso, também, passei a insistir, toda vez que falo com ela.

Hoje, pela manhã, não foi diferente. 

– Já fez o meu pedido? 
– O que você me pediu, mesmo? 
– A senhora disse que ia escrever alguma coisa sobre a palavra... 
– Ah... Tinha me esquecido com-ple-ta-men-te! 
– Eu sabia que a senhora tinha esquecido. 
– Está vendo, como eu sou uma mulher sem palavra?




domingo, 11 de dezembro de 2016

a cidade é moderna



Trastevere
Milton Nascimento

A cidade é moderna
Dizia o cego a seu filho 
Os olhos cheios de terra
O bonde fora dos trilhos 
A aventura começa no coração dos navios
Pensava o filho calado
Pensava o filho ouvindo
Que a cidade é moderna
Pensava o filho sorrindo
E era surdo e era mudo
Mas que falava e ouvia

  



sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Preciso de um recanto para descansar



“Eu estou cansada”. Esta tem sido uma frase recorrente. E vou ficando cansada de repeti-la (com o perdão do trocadilho cretino). Qual, afinal, é a fonte de tanto cansaço? Excesso continuado de trabalho, sim. Mas suspeito que não seja apenas isso.

Noutro dia, pensando a respeito, cheguei à possibilidade de que o cansaço viesse, sobretudo, do sentimento de injustiça e desalento, de desamparo diante das instituições, da sensação de vulnerabilidade sem proteção diante das estruturas sociais, do Estado, dos poderes instituídos.

Byung-Chul Han propõe uma análise desta que ele chama de sociedade do cansaço, apontando seus vários aspectos e dinâmicas que resultam na condição de burnout que incide sobre tantas pessoas, atualmente. Um pensador instigante, autor de uma das leituras mais interessantes dentre as recentes que fiz. De toda sorte, o escopo de discussão fica um pouco além do campo da percepção, ou da experiência corporal propriamente dita do cansaço. Ou seja: configura um conjunto de explicações racionais para uma experiência corporal e psíquica, no âmbito afetivo.

Temo que Walter Benjamin tenha acertado com precisão de atirador profissional, quando apontou o cinema cumprindo uma função pedagógica, no tocante à preparação das pessoas para as situações de choque da sociedade contemporânea. Ele escreveu o famoso ensaio em que faz tal apontamento há quase 100 anos, mas continua com uma assustadora atualidade...

Os filmes de ação com produção norte-americana organizam-se com um percentual menor de diálogos, e, em sua maior parte, mostram correrias, lutas, fugas, perseguições intermináveis. Costumo pensar que ser cidadão norte-americano na nação do filme blockbuster é muito sofrido. Viver fugindo de bandidos, sendo perseguido por inimigos, sob ameaças de toda sorte, sem tempo para pausas, deve ser muito desgastante, afinal...

Então me ocorreu que talvez meu cansaço advenha de um tempo em que tudo acontece como se eu estivesse dentro de um filme dessa natureza. Não há pausa para digerir as experiências, para processá-las. Quando começamos a refletir sobre o que se passa, já somos empurrados a novas e inesperadas situações, com tensão e pressão sempre crescentes.

Alguém pode avisar aos produtores que não quero mais participar desse roteiro? Alguém pode avisar que prefiro ser escalada para filmes mais pausados, com espaços vazios, e finais em aberto? Ah, também prefiro os filmes com orçamentos baixos, mais artesanais, tá?








segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Cuba: instantâneos


1995 se iniciava, e eu fui participar de um congresso de educação, em Havana. Como não havia linhas aéreas, os voos para lá eram fretados, para situações específicas. No caso, era um voo da Varig, fretado pela empresa de turismo que representava o congresso no Brasil. Saímos de São Paulo, no final da manhã. O voo fez uma parada na Isla Margarita, na Venezuela. Chegamos a Havana quase meia noite. No hotel onde tinha sido feita a reserva, descobri que a prática de over booking era normal, e não havia vagas para mim e boa parte dos participantes do congresso. Ficamos no hall, aguardando alguma solução. Havia um grande salão, com música e dança. Transitavam, por ali, homens bem vestidos, que logo ganhavam a companhia de belas mulheres usando roupas com brilhos e sandálias de plataforma altíssimas. Lá pelo meio da madrugada, fomos transferidos para outro hotel, de médio porte, onde fomos acomodados razoavelmente: Hotel Copacabana.

A abertura do congresso foi no Teatro Karl Marx. Depois que toda a audiência foi cuidadosamente acomodada na estrutura grandiosa do prédio, num momento solene a cortina do palco ergueu-se ao som do hino de Cuba. Ao centro, Fidel Castro, em pé, com seu uniforme de cor cáqui. A expressão firme mirava um horizonte além daquele lugar. À sua volta, ministros e funcionários de sua confiança, acompanhando-o no cenho. A cena era simples e contundente. Confesso que estremeci diante da sua intensidade.

Mais tarde, Fidel podia ser facilmente encontrado entre os participantes do congresso, no Centro de Convenções de Havana, conversando com uns e outros. Carismático, seduzia em papel de anfitrião hospitaleiro, com gestos e movimentação muito bem calculados. Os estrangeiros ficaram muito impressionados com aquela aproximação. Numa das noites do congresso, ouvimos um dos famosos discursos do comandante. Soube que nem foi dos mais longos. Deve ter durado pouco mais de duas horas de fala.

Eu conheci uma professora e um professor, irmãos, de Ciego de Ávila, uma cidade localizada mais ao centro da ilha. Ela usava sapatos sem salto, um vestido singelo. Notei que seu calçado era muito comum entre as professoras cubanas. Não vi ninguém com calçados parecidos com os das moças avistadas no hotel da primeira noite. A professora me explicou que elas eram garotas de programa. Seus clientes pagavam em dólares norte-americanos. Por isso podiam comprar aqueles calçados. Ela, como as demais professoras e outros trabalhadores, recebiam em pesos cubanos. Só conseguiam comprar o que havia disponível nos mercados populares, quando havia alguma coisa para comprar. Entreguei a ela parte dos sabonetes, material escolar e outros itens que eu levara para fazer doação. Então ela me perguntou quanto eu pagara pela passagem aérea. Ao ouvir o valor, perdeu-se em pensamentos. Depois comentou que nem reservando o salário dela de anos conseguiria reunir o valor correspondente em pesos cubanos.

Na ilha circulavam dólares norte-americanos entre os que tinham autorização para atender turistas, prestar serviços etc. Muito poucos tinham esse acesso. Logo aprendi que os turistas eram conduzidos cuidadosamente para certas regiões do mapa, e impedidos de circular nas demais. Do mesmo modo, poucos cubanos tinham permissão para o convívio com os estrangeiros. Tudo era mantido sob intenso e rigoroso controle.

Visitei a Escola de Belas Artes da Universidade. Visitei uma escola do ensino fundamental, onde policiais brincavam com as crianças. Visitei as ruínas de um forte. Tudo dentro da programação oficial. Aos poucos, algumas pessoas do lugar foram me mostrando como esse controle era estabelecido, de modo a regular as relações entre a população com os mensageiros do mundo lá de fora. A professora e o professor de Ciego de Ávila começaram a me sondar sobre a possibilidade de eu recebe-los em minha casa, no Brasil, em caso de uma fuga.

Uma senhora de meia idade, funcionária do hotel, falou-me longamente sobre sua admiração ao comandante. Ela, do mesmo modo que muitos outros cidadãos, referia-se a ele como a um membro da família. Grata pelo que ele fizera à sua família, assegurando alimento, moradia, educação, saúde, se desdobrava em elogios e votos de vida longa ao seu líder. Multiplicavam-se os jovens que não poupavam críticas à rigidez do controle estabelecido pelo governo, ao profundo desnível econômico entre a elite do governo e a população, ao fechamento da ilha. Um taxista, engenheiro de formação, mas sem emprego para atuar nessa área, vendia seus livros reunidos no decurso de sua história, escondidos porque proibidos. Comprei-lhe alguns exemplares. E outros, antigos, dispostos em calçadas, a preço de peso cubano. Trouxe, na bagagem, Los cuentos negros de Cuba, de Lydia Cabrera. Amor à primeira vista.

O taxista engenheiro ofereceu-se para me levar a Varadero. Embora eu não quisesse ir, aproveitei para ouvir seu relato sobre o ponto turístico. Explicou-me que ele tinha autorização para ir, em razão de sua formação escolar. Mas nem todos podiam. E as prostitutas credenciadas ficavam numa região específica, longe da orla, para atender aos turistas. Havia, também, os rapazes que se dispunham a acompanhar mulheres que viajavam sozinhas. Não era o meu caso. Em geral, eles experimentavam certa dose de esperança para, quem sabe, conseguir sair da ilha como esposo de alguma estrangeira.

Conheci uma brasileira que fazia o curso de medicina em Havana. Fui almoçar na casa onde ela morava, pagando um dinheiro que complementava a escassa renda da família que a acolhera. A dona da casa esmerou-se para me receber. Conseguiu economizar algumas batatas da cota semanal, e um pouco de carne moída encontrado nalgum mercado, por pura sorte. Entendi que era um banquete caríssimo, uma extravagância da parte deles. Senti-me honrada com o modo como fui recebida, naquele apartamento mínimo, num prédio sem elevador, localizado na parte velha de Havana, onde não são previstos tours para turistas.

Soube, então, que, ainda que alguma família vivesse numa casa com quintal, não poderia plantar hortas ali, ou criar galinhas, para evitar comercialização de alimentos entre a população fora do controle do Estado. Deveriam, sim, aguardar pelas cotas do governo. Mesmo quando elas ficassem mais minguadas, pelo aprofundamento da crise econômica no país. Durante o congresso, descobri, também, que havia uma região, em Cuba, com alta incidência de pessoas surdocegas.

Aprendi que a população de uma nação não coincide com a estrutura da instituição estatal. Ou seja: o governo não é o mesmo que a população de um país. O povo cubano tem uma energia vibrátil acima e mais forte que qualquer forma de governo.

Vida longa ao povo cubano!





segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Eta vida besta




Cidadezinha qualquer
             Carlos Drummond de Andrade


Casas entre bananeiras
Mulheres entre laranjeiras
Pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus.


Alguma poesia (1930)








quarta-feira, 16 de novembro de 2016

abstrações








Outra árvore de Natal?!!!


cenário 
Na grande loja de departamentos, entre louças para sanitários e portas de alumínio, há muitas mudas de plantas para jardim. Samambaias, palmas, bandeiras brancas, orquídeas. Até mudas de parreiras podem ser adquiridas a preços razoáveis. Com a aproximação das festas de fim de ano, dentre as mais populares estão os pés de tuia, em tamanhos entre pequeninos e médios, com folhas oscilando entre verde escuro intenso e verde abacate.

a cena
O pai empurra o carrinho de compras, enquanto conversa com o filho com cerca de 5 anos. Observa os pés de tuia, analisa alguns, e escolhe um dos maiores, acomodando-o no carrinho. O menino pergunta: outra árvore de Natal? Ao que o pai responde: como outra? Então o pequeno explica: mas no ano passado a gente já comprou uma... agora vamos comprar outra? Pois é, explica o pai, a do ano passado já não existe mais, vamos comprar outra para este ano.

memória 
Lembrei-me da árvore de Natal da minha infância, feita com galhos secos de goiabeira, enfeitada com bolas de Natal, mas também cascas de cigarra, pequenas bromélias secas, e outros adornos que íamos inventando no decurso da vida. A árvore nunca era desmontada. Assim, era sempre Natal no canto da sala. Ela ia se modificando no mesmo passo com que nós também nos modificávamos.

obsolescências
Olhei para os pés de tuia, verdes, e pensei no destino provisório que os aguardava. A árvore que poderiam chegar a ser não se realizaria. Por algum tempo, seriam suporte para os enfeites das festas, até perecer pela falta de cuidados como água, terra adubada, luz solar. E então, descartados, seriam substituídos por outros pés de tuia, no ano seguinte, ano após ano, num tempo em que tudo, ou quase tudo, se torna obsoleto tão logo comece a existir. Inclusive as relações entre as pessoas.




terça-feira, 8 de novembro de 2016

Já vem o Natal



A Estrela de Natal, ou Flor de Natal, não deixa esquecer!
Quem precisaria de árvore de Natal, com essa florada no jardim?




terça-feira, 1 de novembro de 2016

A menina, o balão com gás hélio e o sentimento de perda

p/ Maria e Thais

A menina saiu do espetáculo de teatro exultante. Levava consigo, preso a um fio quase invisível, um balão cheio com gás hélio. Esses balões exercem um encantamento à experiência de crianças e adultos. Talvez por não levarem em consideração as leis da gravidade, e se desvencilharem dessas amarras invisíveis que nos matêm aprisionados ao chão. Talvez por serem capazes de partir. Talvez por nos lembrarem da leveza.

A menina saiu do espetáculo levando um pouco de leveza presa às suas mãos por um fino e delicado fio. Como esses fios que quase não percebemos, mas estabelecem vínculos de afeto.

No pátio, enquanto as últimas conversas preparavam as despedidas, a menina observava o movimento das pessoas. O balão flutuava sobre sua cabeça. Então ela levantou os olhos, e o viu distanciando-se, acima de todos. Por alguns instantes, não compreendeu o que se passava. Em seguida não quis acreditar. Mas olhou as suas pequenas mãos, de onde se desprendera o delicado fio, e então caiu em pranto, abraçada ao ventre da mãe.

O balão foi subindo, leve e lentamente, entre a noite sem estrelas da cidade movimentada. Ela não quis mais olhar.

A mãe amorosa lhe disse que poderiam comprar outro. Naquele momento, nada a consolaria. O balão comprado seria outro. Aquele que se lhe escapara portava mais que leveza: estava impregnado das cenas do espetáculo ao qual assistira. Partindo, levara as histórias para brilhar no firmamento. Não haveria outro.

Talvez, além de portar histórias e leveza, o papel do balão tivesse sido propiciar a aprendizagem da perda, cuja dor poderia ser amenizada pelas histórias, pela leveza, mas principalmente pelo tempo...

Olhei a noite, tentando adivinhar o destino do balão. E encontrei-me criança novamente, olhando na direção da estrada, tentando adivinhar como seriam os lugares para onde iam aqueles que partiam. Imaginar esses lugares era também um modo de amenizar a dor da perda, a solidão de quem fica.

Não demorou para que chegasse a minha vez de partir. Pelo caminho, multiplicaram-se as partidas e as perdas. Nem sempre portadoras de leveza...





domingo, 23 de outubro de 2016

Pitanga



Foto: J. Bamberg

Meu pé de pitanga, uma pitanga madurinha, e o invasor, de olho, pronto para devorá-la!






domingo, 16 de outubro de 2016

Entre taxistas e motoristas da Uber


Quando o ônibus entrou na cidade, vários passageiros começaram a acionar, por meio de seus smartphones ou iphones, motoristas da plataforma Uber para, quando desembarcados, seguirem para casa.

Trata-se de uma mudança no comportamento de passageiros, que migram do tradicional serviço prestado pelas redes de táxi para o inaugural sistema Uber, mais barato para o consumidor, mais ágil, atrelado às plataformas digitais acionadas pelos aparatos móveis.

Conheço alguns taxistas que estão já se organizando, também, para migrar. Depois de muito pesarem os prós e os contras, concluíram que, feitas todas as contas, os riscos são os mesmos, e talvez os prejuízos sejam menores. O que muda é o valor, na ponta, pago pelo passageiro.

No serviço prestado pelas cooperativas de táxi, entre o passageiro e o taxista, vários são intermediários envolvidos. Comecemos pela equipe da base, que atende aos telefonemas dos clientes e encaminha o taxista ao endereço indicado. Esses funcionários recebem salário fixo mensal, com carteira assinada, todos os benefícios previstos pela CLT. Seu trabalho não envolve riscos. Muitas vezes, esses funcionários atendem mal aos clientes, negam informação, fazem encaminhamentos errados, mas não recai sobre eles qualquer sanção. Contudo, eles têm autoridade para “castigar” os motoristas, caso estes cometam algum erro no atendimento às corridas solicitadas. Vale ressaltar que o seu salário é pago pelas corridas dos motoristas de táxi.

Há os proprietários das frotas de veículos, que cobram diária pelo uso dos automóveis. O pagamento da diária é pago pelo taxista, contratualmente, não importando se ele rode ou não, se consiga fazer corridas ou não. O taxista paga, também, o aluguel da permissão do taxi. Este pagamento, do mesmo modo, independe de seu desempenho na praça.

De todos estes itens a pagar, se sobrar algum trocado, o taxista leva para casa, ao final do dia. Uma coisa é certa: diariamente, ele começa a jornada como devedor, e se dá por feliz se chegar ao final do seu turno com essas dívidas quitadas. No entanto, todo o sistema só gira a partir de sua força de trabalho, e dos riscos que esse profissional corre, atuando na ponta, na frente. O valor da corrida, pago pelo passageiro, vaza pelos dedos, para ser redistribuído entre o dono do carro, o dono da permissão, o presidente da cooperativa e os funcionários da base.

O diferencial proposto pelo sistema Uber é que essa relação é mais direta: o motorista se cadastra, recebe algumas orientações, e passa a constar entre os que podem prestar os serviços a partir do aplicativo para aparelho móvel. Também não tem quaisquer garantias. Está sozinho, circulando na cidade, com seu próprio carro, por sua conta e risco. Sim, ele tem que disponibilizar seu próprio veículo e arcar com os custos de manutenção. O percentual de cada corrida que paga à empresa lhe assegura apenas o direito de aparecer na plataforma do aplicativo, nada mais. Talvez haja menos intermediários. Isso resulta num valor menor a ser pago pelo passageiro. E também numa dívida menor a ser quitada, diariamente, pelo motorista. Se ele corre, paga, se não corre, não paga.

A plataforma do sistema Uber está no começo. Não nos entusiasmemos por antecipação. Ainda há espaço para entrarem as intermediações. Nada impede, por exemplo, que, com a crise chegando à plataforma do serviço de táxis, os donos de frotas migrem para a Uber também. Há já anúncios de aumento nas tarifas.

Vale lembrar que, quando a GOL começou a operar no ramo da aviação aérea para passageiros, trouxe uma série de inovações que baratearam as passagens de modo importante. Mas não demorou para que os valores equalizassem novamente, e atualmente seus preços estão no mesmo patamar das demais empresas à época de sua entrada no mercado.

Enquanto isso, por vezes, vou de Uber, no mais das vezes, ainda vou de táxi...




domingo, 2 de outubro de 2016

"A humanidade está sentada em um trono de sangue e dor".


A humanidade está sentada em um trono de sangue e dor. A verdadeira história nunca pode ser conhecida a fundo porque sempre há muitas mãos manipulando, escondendo, torcendo os fatos e, principalmente, os rastros que os acontecimentos deixam.

(Pedro Juan Gutiérrez. Fabián e o caos. Ed. Alfaguara, 2016. p. 46)







Código Morse








sexta-feira, 30 de setembro de 2016

OfiCine Dada, no DadaSpring, Cabaret Voltaire, 2016


foto: Alice Fátima Martins

foto: Alice Fátima Martins
foto: Alice Fátima Martins
foto: Alice Fátima Martins

foto: Alice Fátima Martins

O caracol cramunhão questiona o tempo mínimo de orgia informal na lagoa como objeto de socialização.

Filme experimental, cult, pseudointelectual, dadá do primeiro ao último frame, realizado durante a OfiCine Dadá, como parte da programação do DadaSpring. No Cabaret Voltaire, República Federativa do Itatiaia. Perto de Goiânia. Setembro de 2016. 

Ficha Técnica:
CineDaDaístas

Alice Fátima Martins
Ana Flávia Maru
Camila Beatriz
Dionilia Aline de Castro Santos
Gustavo Trindade
Janaína de Oliveira
Marta Aragão
Matheus Pires
Nutyelly Cena
Rafaella Braga
Renato Cirino


Sobre a OfiCineDada

Exercício de apreciação de um cinema desobediente, imperfeito e vibrátil, do início do século XX e das últimas décadas, desencadeando a análise sobre um possível cinema Dada, e sua lógica nas possibilidades contemporâneas de criação. A professora de Artes Visuais Alice Fátima Martins (GO) e o Mestre em Cultura Visual Renato Cirino (GO), ambos do Sistema CooperAÇÃO Amigos do Cinema, te desafiam à investigação.


O filme completo pode ser visto aqui
Ao deguste! 


PS.: Renato, você é o kara!
Allex, você fez falta!






sexta-feira, 9 de setembro de 2016

sobre pedestres e motoristas


Saí a caminhar pela cidade. Cross urbano em que o pedestre tem que ir superando todos os obstáculos contra os fluxos de carro, motos, os temporizadores dos semáforos, cruzamentos sem sinalização...

Num dos cruzamentos, o condutor do carro parou em cima da faixa de pedestre, para aguardar o sinal verde. Fui atravessando devagar, olhei longamente a faixa, o carro avançado. Olhei para dentro do carro. Uma mocinha, linda, esperava para avançar. Você sabe que parou o carro sobre a faixa, não é? Você sabe que está errada, não é? Ela me olhou, e assentiu com um gesto quase imperceptível. Na próxima vez, respeite a faixa de pedestres, minha filha!

Acabei a travessia. Não estava irritada. Muitas vezes consigo me divertir fazendo isso. Foi o caso. Mais adiante, uma longa fila de carros à espera da luz verde em outro semáforo. No final da fila, um dos carros aguardava parado sobre a “caixa amarela”. A chamada caixa amarela sinaliza a área dos cruzamentos onde não se pode parar, para não obstruir a passagem dos outros carros. Um rapaz conduzia esse carro. Janela aberta. Não me furtei de lembra-lo que estava incorrendo numa infração. Da próxima vez, meu filho, se lembre que não pode, e não deve parar sobre esse xadrez amarelo, viu? Ele me olhou, surpreso. Segui minha caminhada.

Então me ocorreu que falta aos motoristas viver a cidade como pedestre. Caminhar entre os carros e motos lhes daria uma outra percepção de sua condição como motoristas. Talvez, a cada 5 anos, quando da renovação da carteira de habilitação, pudesse ser feito um treinamento, no qual os motoristas devessem cumprir percursos a pé, nos quais fosse necessário fazer uso de faixas de pedestres, travessias em cruzamentos com semáforos de 3 tempos, caminhar por calçadas onde há carros estacionados, etc.

Com certeza, uma experiência como essa modificaria o comportamento dos motoristas na condução dos carros.







sábado, 3 de setembro de 2016

Apresentando o livro Brevidades na Escola Parque da 313/314 sul



 Quem gosta de poesia? Eeeeeeuuuu!!!!


Foto: Ruth dos Santos Martins



Foto: Ruth dos Santos Martins



Foto: Ruth dos Santos Martins



Foto: Alice Fátima Martins



Foto: Alice Fátima Martins


Foto: Alice Fátima Martins



No dia 2 de setembro, eu, minha mãe, D. Alice, e minha irmã, Ruth, fomos apresentar o livro Brevidades a um grupo de estudantes da Escola Parque da 313/314 sul. Quase 60 crianças ouviram poemas, viram fotografias, conversaram sobre poesia, sobre a vida. Cantamos, contamos histórias. Foi uma celebração!








segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Brevidades

No dia 1º de setembro, faremos o lançamento do livro Brevidades na Livraria Sebinho.
No dia 2 de setembro, faremos um encontro com estudantes da Escola Parque da 313/314 sul. Com direito à participação da minha mãe, Alice Vieira Martins.
Esperamos vocês por lá!






quarta-feira, 24 de agosto de 2016

terça-feira, 23 de agosto de 2016

18ºC


Existem temperaturas e temperaturas. Muitas vezes, 18 ºC não é o mesmo 18 ºC.

Quando, preparando minha viagem mais recente, me informei que a temperatura ficaria entre a mínima de 10ºC e máxima de 18ºC, pensei que seria essa uma faixa confortável, à qual estou habituada. Contudo, já instalada para iniciar as atividades, embora a temperatura tivesse chegado à máxima anunciada, o frio era intenso, contrariando a expectativa em relação ao que eu me sentia familiarizada. Eu sentia mais frio do que o termômetro insistia em mostrar!

No retorno para casa, ao descer do avião, a temperatura local indicava os mesmos 18ºC... E eu podia até sentir uma certa lufada quase morna roçando a pele.

Compreendi, então, que há uma diferença fundante entre 18ºC como ponto máximo de uma parábola com a<0, e 18ºC como ponto mínimo de uma parábola com a>0.

No primeiro caso, a curva se inicia em temperaturas mais baixas. As paredes, as águas, a atmosfera, as calçadas, as plantas estão imersas no frio há tempo suficiente para se demorarem frias, fazendo pouca concessão aos processos termodinâmicos de troca de calor, mesmo quando a curva se eleva até a temperatura máxima, os tais 18ºC. Ou seja, nesse ponto máximo, o ambiente permanece frio, ainda. E quando a curva volta a decrescer, a baixa temperatura se realimenta.

Por outro lado, quando a curva se inicia em temperaturas mais altas, ou muito mais altas, os corpos guardam calor, e se demoram em dissipá-lo. As casas, a atmosfera, os gestos, os metais, tudo quanto seja sólido, tudo quanto seja etéreo. Por isso, quando a curva chega à mínima temperatura de 18ºC, o calor que emana dos corpos e substâncias mantém, ainda, tudo mais aquecido.

Por isso, os 18ºC de cada uma das parábolas nunca coincidem, no movimento, a despeito de indicarem o mesmo valor absoluto...






segunda-feira, 15 de agosto de 2016

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Você já foi a Pirenópolis?

fim de tarde...

primeira estrela (que não é estrela...)


vista do alto da Rua do Lazer

a Igreja Matriz, restaurada


o II Pirenópolis Doc foi um sucesso!


Domingo tem até engarrafamento! Mas logo passa...


Nada, nada tira o charme da ponte sobre o Rio das Almas...






segunda-feira, 25 de julho de 2016

De vez em quando fico desatenta...



Confesso, de vez em quando fico desatenta. Meio passada... Aí tenho a impressão de ter caído numa espécie de lapso, fenda... demoro a compreender coisas que começam a acontecer à minha volta.

Há alguns pares de anos, eu trabalhava numa faculdade da iniciativa privada. Naquele semestre, a direção pedagógica solicitou que os professores com os estudantes escolhessem nomes para as salas de aula. A iniciativa fazia parte das estratégias para estabelecer vínculos entre a comunidade e o lugar. Uma das professoras disse que ela e um grupo de alunos tinham escolhido, para determinada sala, o nome Bananas de Pijama. Achei graça pela escolha. Imaginei bananas com pijamas de bolinhas, ou estampado com florinhas, ou estrelinhas...

Queria saber: como teriam estabelecido aquela relação entre bananas e pijamas, além da rima? Demorou algum tempo, um tempo maior que tempo das mídias, para eu entender que eles não tinham criado o nome, mas replicado uma espécie de fenômeno instantâneo, uma série televisiva, de origem australiana, voltada para o público infantil. Os pijamas eram bobos: com listras azuis e brancas. A série, criada no início dos anos 1990, foi lançada no Brasil no final dessa década. Exatamente nessa época, ocorreu o episódio na faculdade.

Fazer tal constatação foi como voltar ao tempo da comunidade à qual eu pertencia. Findo o lapso, passava pela porta da sala intitulada Bananas de Pijamas experimentando alguma dose de frustração.


Quase duas décadas depois do ocorrido, deparo-me com outro lapso. Andava distraída, quando comecei a ler, em algumas redes sociais, alguns comentários sobre Pokemon Go. Conhecedora da figura do Pokemon, a primeira ideia que me ocorreu foi a de algum game produzido ou praticado por grupos em Goiás...

Vamos lá, faz sentido. Goiás sedia o Media Lab, na UFG, liderado pelo nosso querido Prof. Cleomar. Neste ano, já começa a oferecer suporte para a abertura de outros centros de pesquisa em mídia interativa em outras unidades federativas, dentro dos mesmos moldes. Há uma rapaziada trabalhando com games. As gentes goianas são divertidas e inventam coisas todo o tempo. E a sigla deste Estado é qual? GO! Eu conheço algumas pessoas que escrevem Go. Pronto, Pokemon Go é do Goiás!

Desta vez o tempo de lapso foi bem menor. Rapidamente me inteirei do experimento, do jogo e de todas as polêmicas com que está envolvido. De toda sorte, vai demorar para eu me desfazer da ideia de que Podemon Go seja coisa de Goiás...







quarta-feira, 22 de junho de 2016

caças e caçadores


Mimi fica por ali, esticada ao sol, macia e atenta. Por vezes, sai à caça, atendendo ao chamado do espírito predador. Amiúde traz uma lagartixa para brincar até a morte do pequeno réptil. Mordisca, dá pequenos tapas, saltita em torno, até que decide devorá-la. Mas, entre as lagartixas há aquelas que não se deixam abater facilmente. Estrategas, executam eficientes planos de sobrevivência à impiedosa fêmea felina. Algumas lançam mão de recursos da performance. Abandonam-se, com a barriga voltada para cima, como se mortas. À menor distração de Mimi, escapam velozmente em direção ao primeiro vão, e dali para outras searas mais seguras. Deixam Mimi a ver navios...





Ao meu amigo menino que já se fez moço


Era seu primeiro semestre no curso de Licenciatura em Artes Visuais. Por vezes, para participar da aula de desenho, ela precisava trazer seu filho, por não ter com quem deixar naquele período. Não estou muito certa, mas imagino que ele tivesse por volta de 7 anos. Confesso que eu gostava muito da presença do pequenino, pois sempre era quem mais desenhava nas aulas. Atento às orientações, as interpretava como conseguia, e executava os desenhos de modo sempre entusiasmado. Eu o incluía entre os estudantes nos processos de discussão, nos comentários, nas avaliações. E sentia falta quando se demorava a comparecer às minhas aulas.

Nos semestres seguintes, ministrei disciplinas teóricas para a sua mãe. E por vezes ele reivindicava participar das aulas, mesmo advertido de que não seriam aulas práticas. Durante as atividades, observava com atenção as discussões. Eventualmente, eu inventava alguma forma de propiciar que ele se manifestasse. O que ele fazia prontamente.

A mãe dele se formou. Numa tarde, de surpresa, ele foi me visitar na universidade. Já estava se colocando pré-adolescente. Deixei meus afazeres, e nos colocamos a conversar sobre muitas coisas. Inclusive sobre cinema: uma paixão em comum entre nós dois. Acabei descobrindo que ele não lera o livro Alice no país das maravilhas. Providenciei um volume para ele, e tratei de fazer chegar às suas mãos.

Depois disso, não tive mais notícias do meu amigo querido.

Mas ontem, recebi uma mensagem dele, por e-mail. Nela, ele me contou que fora à universidade, numa programação quando as escolas de ensino médio levam seus estudantes para conhecer os cursos de graduação oferecidos ali. É uma maneira de motivá-los a se preparar para o acesso ao ensino superior. Meu amigo já está se preparando para seguir carreira universitária. E, tendo ido à universidade, aproveitou para me procurar. Queria me contar o que tem feito. Queria lembrar o livro que lhe dei. Mas eu não estava lá. Por isso, decidiu me enviar a mensagem. Queria marcar um horário para fazer uma visita.

Fiquei muito emocionada. Quantas frustrações, quantos embates, quantas tensões terão valido a pena. 



Um caminho é só um caminho, e não há  desrespeito a si ou aos outros em abandoná-lo, se é isto que o coração nos diz...
Examine cada caminho com muito cuidado e deliberação.
Tente-o muitas vezes, tanto quanto julgar necessário.
Só então pergunte a você mesmo, sozinho, uma coisa...
Este caminho tem coração?
Se tem, o caminho é bom,
se não tem, ele não lhe serve.
Um caminho é só um caminho.
Carlos Castañeda