Era seu primeiro semestre no curso de Licenciatura em Artes
Visuais. Por vezes, para participar da aula de desenho, ela precisava trazer
seu filho, por não ter com quem deixar naquele
período. Não estou muito certa, mas imagino que ele tivesse por volta de 7 anos. Confesso que eu gostava muito da presença do pequenino, pois sempre
era quem mais desenhava nas aulas. Atento às orientações, as interpretava como
conseguia, e executava os desenhos de modo sempre entusiasmado. Eu o incluía
entre os estudantes nos processos de discussão, nos comentários, nas
avaliações. E sentia falta quando se demorava a comparecer às minhas aulas.
Nos semestres seguintes, ministrei disciplinas teóricas para
a sua mãe. E por vezes ele reivindicava participar das aulas, mesmo advertido
de que não seriam aulas práticas. Durante as atividades, observava com atenção
as discussões. Eventualmente, eu inventava alguma forma de propiciar que ele se
manifestasse. O que ele fazia prontamente.
A mãe dele se formou. Numa tarde, de surpresa, ele foi me
visitar na universidade. Já estava se colocando pré-adolescente. Deixei meus
afazeres, e nos colocamos a conversar sobre muitas coisas. Inclusive sobre
cinema: uma paixão em comum entre nós dois. Acabei descobrindo que ele não lera
o livro Alice no país das maravilhas.
Providenciei um volume para ele, e tratei de fazer chegar às suas mãos.
Depois disso, não tive mais notícias do meu amigo querido.
Mas ontem, recebi uma mensagem dele, por e-mail. Nela, ele
me contou que fora à universidade, numa programação quando as escolas de ensino
médio levam seus estudantes para conhecer os cursos de graduação oferecidos
ali. É uma maneira de motivá-los a se preparar para o acesso ao ensino
superior. Meu amigo já está se preparando para seguir carreira universitária. E,
tendo ido à universidade, aproveitou para me procurar. Queria me contar o que
tem feito. Queria lembrar o livro que lhe dei. Mas eu não estava lá. Por isso,
decidiu me enviar a mensagem. Queria marcar um horário para fazer uma visita.
Fiquei muito emocionada. Quantas frustrações, quantos embates,
quantas tensões terão valido a pena.
Um
caminho é só um caminho, e não há desrespeito a si ou aos outros em abandoná-lo, se é isto que o coração nos diz...
Examine
cada caminho com muito cuidado e deliberação.
Tente-o
muitas vezes, tanto quanto julgar necessário.
Só
então pergunte a você mesmo, sozinho, uma coisa...
Este
caminho tem coração?
Se
tem, o caminho é bom,
se
não tem, ele não lhe serve.
Um
caminho é só um caminho.
Carlos
Castañeda
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