terça-feira, 28 de maio de 2013

Boi de maio - intervenção urbana colaborativa. Iporá/GO. Maio de 2013

Uma trupe de quatorze pessoas seguiu para Iporá, para se reunir a outra trupe com mais pessoas, dentro da programação da Universidade das Quebradas em Rede, Sessão Goiás, com ações coordenadas pelo Prof. Cleomar Rocha. Parceiros dessa ação: UFG, MediaLab/UFG, SeCult/GO, Secretaria de Cultura de Iporá, IFG/Iporá, UEG, GIRA.

No sábado à tarde, foram realizadas várias oficinas, dentre as quais, a de fotografia, coordenada pela fotógrafa Julia Mariano, acompanhada por mim, pelo Pablo de Regino e pelo Marcelo. A Lizi, fotógrafa residente em Iporá, integrou o grupo, com participação fundamental. A luz era doce sobre Iporá, quando o grupo saiu com a proposta de produzirem imagens pouco familiares de paisagens e objetos familiares aos seus olhares. Por sugestão do Prof. Cleomar, planejamos projetar as fotografias em meio à festa da cidade, a Festa de Maio, onde havia muitas barracas, e muito movimento de pessoas.

À noite, então, buscávamos um bom lugar para fazer as projeções. Quando nos deparamos com o boi de fibra de vidro, figura central na festa, disputado entre adultos e crianças que posavam ao seu lado em registros fotográficos. O boi, referência à economia da região, à cultura do lugar, de superfície branca e ampla, oferecia-se como telão, como écran aos passantes. O olho aguçado da Júlia percebeu a relação, elegendo o sítio para as projeções organizadas em duas etapas: projeções feitas pelo quadricóptero, em projeto desenvolvido pelo mestrando Pablo de Regino e pelo Prof. Cleomar Rocha, e projeções das imagens capturadas pelo grupo da Oficina de fotografia.

Assim, o Boi de Maio foi revestido por imagens que se relacionaram com o público da festa, com a cidade, com o imaginário da região. Foi vestido, e retribuiu com sua imponência, com sua âncora no lugar, num encontro denso, intenso, que nos impactou, a todos, de modo inesquecível. Em sua retribuição, integrou a atmosfera de acolhimento à trupe de Goiânia, parceiros no coletivo que assina o Boi de Maio: Cleomar, Alice, J. Bamberg, Júlia, Marcelo, Neto, Wilson, Pablo, Maria Antônia, Jordão, Veramar, Lucas, Marcelo Reis, Mário. A estes, reúnem-se os membros do GIRA, de Iporá, e todos os que integraram a Oficina de Fotografia.

Viva o Boi! Viva a Festa de Maio! Viva Nossa Senhora Auxiliadora, padroeira de Iporá! Viva o Boi de Maio! 
Ao deguste!














segunda-feira, 27 de maio de 2013

sexta-feira, 24 de maio de 2013

A bailarina (Cecília Meireles)







Esta menina
Tão pequenina
Quer ser bailarina

Não conhece nem dó nem ré
Mas sabe ficar na ponta do pé

Não conhece nem mi nem fá
Mas inclina o corpo prá cá e prá lá

Não conhece nem lá nem si,
Mas fecha os olhos e sorri.

Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar
E não fica tonta nem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu
E diz que caiu do céu


Esta menina
Tão pequenina
Quer ser bailarina

Mas depois esquece todas as danças
E também quer dormir como as outras crianças.











terça-feira, 21 de maio de 2013

pequeno companheiro de viagem


Sentei-me à janela. Ao meu lado, sentou-se o pequeno Isaac, de 5 anos. Era sua primeira viagem de avião. Estava ansioso. A mãe, do outro lado do corredor, o acompanhava em todos os movimentos senta, Isaac; não tire o cinto, Isaac; cuidado, Isaac!

Quando o avião começou a rodar na pista, para decolar, ele segurou-se em sua poltrona, e suspirou que medo. Mas logo esticou-se todo, para espiar pela janela as casinhas lá em baixo. A praia, olha a praia! Quase lhe faltava o ar de tanta admiração.

O avião foi subindo, subindo, e de repente a vista desapareceu. Do lado de fora tudo ficou branco. Eu lhe falei está vendo? Estamos dentro da nuvem. Ele arregalou os olhos, e a admiração agrandou-se mais do que ele dava conta de respirar meu Deus, a gente 'tá dentro da nuvem! 

Algum tempo depois, o pequeno dormiu, aninhado em sua poltrona. Talvez sonhasse com nuvens e voos de pássaros.



domingo, 19 de maio de 2013

O taxista, o psiquiatra e a socióloga



O taxista era dos conversadores. Puxou prosa, e logo lhe informei que eu era professora. Falei-lhe sobre a universidade, a área de artes, e não deixei de referir minha formação também em sociologia. De artes, ele julgou entender. Quem não ouve música, vê filmes, novelas e shows na TV, tem algum artesanato em casa? Mas sociologia era uma palavra cujo significado lhe escapava ao repertório. O que é o sociólogo, o que faz, perguntou. Ele tenta compreender as relações entre as pessoas vivendo na sociedade, em coletivo. O taxista buscou, então, um paralelo com alguma referência entre as profissões que conhecia. É como um psiquiatra, então! Animei-me com a conexão estabelecida. O psiquiatra se ocupa das pessoas, individualmente; o sociólogo quer saber como o conjunto de pessoas desenvolve suas atividades, e as questões que decorrem dos modos como o conjunto de pessoas, em sociedade, se organiza. Ele silenciou por algum tempo, para então decretar uma questão da sociedade é a droga, essa sim é um problema! Concordei com ele. Essa, por exemplo, é uma questão que importa aos sociólogos, pensando em termos da sociedade.

Ele fez mais uma pausa, para então confessar eu tenho um irmão que nós perdemos para a droga. E prosseguiu a droga destruiu a família dele, as economias da família, hoje é como se os filhos não tivessem pai. Ele já está com mais de 40 anos, e não consegue sair da droga. Não tem jeito, mais. Nem o psiquiatra deu conta...

A pausa que se seguiu pareceu me inquirir se essa seria uma causa a ser tomada por algum sociólogo. Sinto, muito, senhor, foi o que pensei, sem coragem de pronunciar. Tampouco sociólogos, tampouco sociólogos dariam conta...

Chegávamos, já, ao aeroporto.





sexta-feira, 17 de maio de 2013

Transitivo




estende-se ao horizonte, belo, revolto mar
a certa altura, não é possível saber se o que avisto ainda é mar, chuva, ou já o céu...


terça-feira, 14 de maio de 2013

Uma gata na coleira



Gatos são animais que não se subjugam. Ao menos, eu imaginava que não se subjugassem...

A senhora sentia-se só. Um dia alguém lembrou que seria bom ter um animalzinho por perto. Muitos estudos têm apontado o convívio com animais domésticos como remédio para alguns males da vida contemporânea: depressão, solidão, etc. Ela também pensou que gostava muito da natureza, e concluiu que seria bom, mesmo, ter um animalzinho. Um gato, talvez. Por uma bandeira política, em defesa dos projetos femininos, preferiu uma gata.

Foi a uma loja especializada em animais domésticos, escolheu o filhote, e levou-o consigo, para iniciar um novo tempo – em sua vida, e na vida do filhote. Vivendo num apartamento, comprou pequenos brinquedos para gatos, organizou a caminha para a gatinha dormir, sobre a sua própria cama. Reorganizou a rotina para abrigar a nova moradora.

Nos primeiros tempos, a gatinha não saiu do apartamento, tampouco subiu nas janelas. Quando ficou maiorzinha, ganhou uma coleira, com uma corrente elegante que se prendia à mão de sua proprietária. Então começou a fazer os primeiros passeios fora de casa: levada a caminhar em baixo do prédio, nas calçadas, na grama. Sempre com a coleira amarrada ao pescoço, presa à corrente controlada pela dona.

A gatinha rosnava, balançando a ponta do rabo de um lado para o outro. Andava arqueando o corpo, parecia esforçar-se, todo o tempo, para encontrar alguma maneira de se livrar da prisão. Sua dona explicava aos vizinhos que eram sinais de alegria. A senhora já não se sentia só, nem mais padecia de depressão. Praticava a caridade de zelar pelo pequeno animal e ajudar a preservar a natureza... Sim, tornara-se uma pessoa muito melhor...



domingo, 12 de maio de 2013

"Nosso Norte é o Sul..."




Joaquin Torres-Garcia. Mapa invertido. 1943.



Joaquin Torres-Garcia é um artista uruguaio, pintor construtivista, intelectual importantíssimo na produção relativa ao contexto da América latina. É considerado entre os mais importantes do século XX. 

uma aranha mijou na minha boca...


Quando sopravam os primeiros ventos frios do fim do outono, e a umidade baixava sensivelmente, logo estouravam pequenas bolhas em minha boca. Doloridas, demoravam para cicatrizar. Então minha avó olhava, e decretava: "A aranha mijou na boca da minha fia!"

Custosa, essa aranha! Onde já se viu, mijar na boca de crianças indefesas, e inadvertidas!

Pela facilidade de contágio, estima-se que, atualmente, um percentual muito alto da população seja portadora do vírus tipo herpes simplex, embora uma parcela dessas pessoas nunca venha a sofrer com suas manifestações. Pior que as bolhas doloridas e o desconforto causado pelo lábio ferido, é o fato de não ter tratamento definitivo: uma vez contaminada, a pessoa não se livra mais do vírus, que passa a habitar seu organismo, de forma latente a maior parte do tempo. O medicamento disponível no mercado, que não oferece a cura, mas anuncia que pode interferir no DNA do vírus, visando alterar seu ciclo de ação, custa mais que duas centenas de Real. Tão caro, que o preço do genérico soa quase como um alento: pouco menos que uma centena de Real.

Mês de maio adentro, cansaço extremo, tensão, primeiras noites frias, umidade baixa, a aranha visitou meu sono, e, de presente, deixou uma boa mijada em minha boca. Coisa feia, essa mania de mijar na boca dos outros...



domingo, 5 de maio de 2013

mundo cão

...
hoje estou mais para amores perros, dogville, ou qualquer dos contos do Kafka, do que para mágico de Oz, ou mesmo qualquer odisseia no espaço... 
...

não nos iludamos: a natureza humana não é boa, nem má. O que não lhe ameniza os traços da face perversa...
...

acho que estou um pouco impaciente...


2001: Uma odisséia espacial. Stanley Kubrick. 1968.
Amores perros. Alejandro González Iñárritu. 2000.
Dogville. Lars von Trier. 2003.
O mágico de Oz. Victor Fleming. 1939.