Quando sopravam os primeiros ventos frios do fim do outono, e a umidade baixava sensivelmente, logo estouravam pequenas bolhas em minha boca. Doloridas, demoravam para cicatrizar. Então minha avó olhava, e decretava: "A aranha mijou na boca da minha fia!"
Custosa, essa aranha! Onde já se viu, mijar na boca de crianças indefesas, e inadvertidas!
Pela facilidade de contágio, estima-se que, atualmente, um percentual muito alto da população seja portadora do vírus tipo herpes simplex, embora uma parcela dessas pessoas nunca venha a sofrer com suas manifestações. Pior que as bolhas doloridas e o desconforto causado pelo lábio ferido, é o fato de não ter tratamento definitivo: uma vez contaminada, a pessoa não se livra mais do vírus, que passa a habitar seu organismo, de forma latente a maior parte do tempo. O medicamento disponível no mercado, que não oferece a cura, mas anuncia que pode interferir no DNA do vírus, visando alterar seu ciclo de ação, custa mais que duas centenas de Real. Tão caro, que o preço do genérico soa quase como um alento: pouco menos que uma centena de Real.
Mês de maio adentro, cansaço extremo, tensão, primeiras noites frias, umidade baixa, a aranha visitou meu sono, e, de presente, deixou uma boa mijada em minha boca. Coisa feia, essa mania de mijar na boca dos outros...
Nenhum comentário:
Postar um comentário