terça-feira, 27 de setembro de 2011

canteiros



Enquanto isso, em canteiros de alguns quintais por onde temos transitado, cultivamos utopias... 





sábado, 24 de setembro de 2011

semeando sonhos...

plantar as sementes...
cultivar as mudas...


cuidar dos sonhos
para que não percam o viço...


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

8ª I - para desvelar o mundo...


É véspera de evento na escola. No sábado, durante todo o dia, haverá exposição, apresentação de músicas, e outros itens na programação. A professora de Artes ultima os trabalhos com os alunos. Na 8ª I, autoriza alguns a irem para o pátio para concluir a execução de seus projetos. Os demais - ou porque não fizeram os trabalhos, ou porque já os concluíram - ficam na sala. Ela lhes entrega um texto de uma página para copiarem no caderno. Durante a aula, divide-se entre acompanhar o grupo no pátio, organizar a exposição, e se fazer presente entre os alunos na sala de aula - estes em maior número. As atividades no pátio seguem razoavelmente tranquilas. Na sala, poucos se dispõem a atender o solicitado. Os meninos brincam entre si, jogam aviõezinhos, brigam, ouvem música, pegam objetos uns dos outros, gritam, correm pela sala. Apenas dois ou três dedicam-se a copiar todo o texto.

Entre as meninas - em minoria -, duas se esforçam para manter a concentração na atividade, mesmo quando provocadas pelos meninos. Uma delas me procura: -"o que é desvelar?" Pergunto-lhe onde está a palavra. Ela aponta o título do texto: "Poesia da imagem: modos de desvelar o mundo".


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

bucólica



... entre reflexos da tarde que finda, delicados pássaros esculpidos em madeira repousam nas folhas de uma bromélia feita com barras de ferro ...



terça-feira, 20 de setembro de 2011

Delicados ritos de iniciação na sociedade de consumo



O menino, com cerca de 4 anos e cabelos cacheados como os do Pequeno Príncipe, segue, dentro do carrinho de compras, levado pela mãe amorosa, entre as prateleiras e gôndolas do hipermercado. Seus olhos encantam-se com as diversidades de formas, cores, odores, e com as promessas de gostosuras e belezuras e prazeres de cada item estrategicamente acomodado. Aponta com o dedinho: quer isto, aquilo... A mãe atende a algumas solicitações, desconsidera outras, e vai abarrotando o carrinho, entre as pernas do menino, com embalagens.

Já na fila do caixa, o menino avista algumas embalagens coloridas. "Eu quero". A mãe assente. Ele segura a azul entre as mãos, feliz. Depois pergunta: -“O que é?”. A mãe explica: - “É para tomar banho, meu filho”. Uma esponja azul, na forma de borboleta, e um pequeno pote com sabonete líquido. A mãe pega mais uma, de cor laranja. Levará para outra criança. O menino compara as duas embalagens, encantado.

A fila é longa. Antes de chegar ao caixa, pelo telefone celular, a mãe liga para o esposo. O menino começa a conversar com o pai. Fala sobre o pacote colorido que tem nas mãos. Pergunta: -“Quer ver?”. E passa o aparelho de telefone pelos vários lados da embalagem, para que o pai possa ver por completo a nova aquisição. Volta a falar: -“Viu?”. E mostra mais uma vez, agora um pouco afastado do aparelho, para que o pai tenha uma vista geral. A mãe se diverte: -“Meu filho, ele não está vendo! Dê tchau ao papai, vá.” A mãe retoma a conversa com o esposo. O menino continua brincando de faz de conta: com a mãozinha ao ouvido, segurando um aparelho celular imaginário, por algum tempo dá prosseguimento à conversa com o pai. O aparelho molda o gesto, e o gesto é integrado ao corpo...

No caixa, ajuda a mãe a colocar os itens de compra sobre o balcão, sem perder de vista aqueles que foram de sua escolha. Pensa na lista interminável de itens que, deixados para trás desta vez, poderão ser levados para casa na próxima visita ao templo, o hipermercado. As mercadorias marcam o desejo, sendo incorporadas, assim, aos projetos de felicidade...




domingo, 18 de setembro de 2011

A menina que queria fotografar as estrelas


p/ Julia, querida, que também é menina, queria ser a moça do tempo,
 e hoje anda por aí, ensinando crianças a fotografar estrelas...

Julia conversava com as crianças sobre as fotografias que elas tinham feito. Cada uma ia explicando o que estava nas fotos, e como as realizara. Umas tinham ficado escuras, outras tinham sido batidas a contra-luz. Podiam se ver auto-retratos, familiares, hortas, árvores, porcos, vacas, gatinhos, papagaios, galinhas, quintais, aves passando em bando pelo céu, por do sol. Entre as vozes tagarelas, sobressaiu-se uma, delicada, em confissão: -"Eu queria fotografar as estrelas..."

Pensei no meu encantamento pelo céu, desde quando tinha a mesma idade que ela tem hoje. Sorri. Pensei, também, no modo como sou movida a fotografar certos acontecimentos cíclicos, a cada nova estação.

A menina pensa nas estrelas do céu. A estas alturas do ano, eu penso nas sapucaias tingindo de cor vinho escuro alguns trechos da Asa Norte, em Brasília. Época de brotação e floração. As folhas novas vêm com viço, num tom avermelhado escuro, que vai se tornando vinho, até chegar ao verde escuro, já amadurecidas. Junto com elas, as pequenas flores lilases, de vida breve, rapidamente cobrem o chão com sua coloração e perfume.

A cada ano, aguardo com expectativa por esta época, para fotografá-las. Nem sempre consigo. Quando é possível, busco novos enquadramentos, ângulos, luminosidades. Mas as fotos não capturam os odores que envolvem as árvores, a brisa movendo as folhas, a temperatura aquecendo - por vezes mais do que o confortável - o solo sobre o qual repousam as flores caídas. A magia que busco fixar na fotografia me escapa. As marcas que deixa, as deixa em mim, não na imagem.

Como as estrelas, impressas nos sonhos da pequena em suas primeiras aventuras com uma câmera fotográfica na mão.



terça-feira, 13 de setembro de 2011

Janela sobre as ditaduras invisíveis



A mãe abnegada exerce a ditadura da servidão.
O amigo solícito exerce a ditadura do favor.
A caridade exerce a ditadura da dívida.
A liberdade de mercado permite que você aceite os preços que lhe são impostos.
A liberdade de opinião permite que você escute aqueles que opinam em seu nome.
A liberdade de eleição permite que você escolha o molho com o qual será devorado.

Eduardo Galeano. As palavras andantes. Porto Alegre: LPM, 1994, p. 61. 


domingo, 11 de setembro de 2011

Cinza


Figura frequente nos céus de Brasília, no rigor da seca e das queimadas: o avião Hércules sobrevoa a cidade a pequenas alturas, e despeja água nos focos de incêndio que se multiplicam, principalmente nas cercanias do aeroporto, para evitar problemas com a intensa rotina de pousos e decolagens da aviação comercial.




No meio da tarde, não há sol: as fumaças encobrem o céu. E o chão queimado se desdobra em tons de preto, cinza e ocre...


sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Mostra Hugo Caiapônia


De 8 a 11 de setembro de 2011


Agora é a vez do produtor, roteirista e ator de cinema Hugo Caiapônia, referido também como o Mazzaropi do Cerrado. Seus filmes contam histórias da personagem Imbilino, interpretado por ele mesmo. São comédias, cujo elenco é formado por atores conterrâneos seus.
 
Na mostra, os filmes produzidos por Hugo Caiapônia, nos quais também atua:  “Meu rádio, minha vida”, “A Lua e o dente”, “A arrependida” e "O galo e a mega da virada". 

Vale a pensa conferir! Vejam a programação:
8/9 - Meu rádio minha vida
9/9 - A lua e o dente
10/9 - Arrependida
11/9 - O galo e a mega da virada (lançamento)


Sessões às 12h30, 15h e 20h.
Local: Cine  Ouro - Cinema
Entrada gratuita






quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Oração ao Tempo (Caetano Veloso)


És um senhor tão bonito

Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo

Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo

Que sejais ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo tempo tempo tempo

Peco-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo

De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo

O que usaremos prá isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo
Tempo tempo tempo tempo

E quando eu tiver as[ido
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo

Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo




terça-feira, 6 de setembro de 2011

Experiência estética



Na volta para casa, vinha comovida, um pouco de choro quase a se derramar. O fascínio pelo que vi e ouvi alterava minha percepção da paisagem. Precisava me recolher, para digerir o que estava em curso. Levava-me, pela mão, a certeza de que testemunhara um desses momentos – bem pouco frequentes – quando nos aproximamos um pouco mais do mistério humano, e avistamos acenos de algum sentido de viver, se é que há.

Esse testemunho assusta e fascina, ao mesmo tempo.

Talvez essa seja a natureza da experiência estética.



segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Cosmopolita



O menino nasceu, inaugurada a capital federal há três anos. Cresceu brincando com a criançada na rua ainda sem asfalto. Nas vizinhanças, uma família libanesa, outra família gaúcha, mineiras eram várias, mas também cariocas, nordestinas, goianas. Tinha também um amigo cujos pais eram bolivianos. Se pais e mães não interagiam muito, entre a meninada, as trocas eram muito mais ricas: comiam esfirras na casa de uns, tomavam chimarrão na casa de outros, lambiam os beiços com os pães de queijo adiante, pamonhas, hummm... E assim iam, pela degustação, pela sonoridade dos sotaques, pela diversidade, aprendendo que a maior riqueza humana está, mesmo, na possibilidade de convívio entre as diferenças...


sábado, 3 de setembro de 2011

Primeira lição sobre arte


p/ Vagna, avó de Otávio

"A arte é assim: cada um vê de um jeito", explicou o pequeno Otávio, com a sabedoria de seus 9 anos, à avó. Ela me faz o relato, rindo-se: "Ele tinha pegado um pedaço de compensado, e estava lá, estragando as tintas do avô". O avô é um artista singular. Trabalha com produção de teatro, confecciona cenários, mas principalmente é cineasta, tendo dirigido mais de uma dezena de filmes deliciosos, sobretudo, de serem realizados. Imaginem, então, como seja a experiência de vê-los! Por essa razão, a casa do avô é cheia de quinquilharias: da sala ao quintal, de tudo um pouco, matéria prima para suas criações. Um paraíso para o pequeno Otávio. Este, satisfeito com as manchas coloridas cobrindo o compensado, perguntou à avó: "O que a senhora está vendo aqui?" Para não correr maiores riscos, ela lhe devolveu a pergunta: "Você, o que você está vendo?" Ele não se fez de rogado: "Eu vejo uma mulher de cabelos compridos" A avó então tomou posição: "Pois eu vejo um cachorro."

"Está vendo, vó? A arte é assim: cada um vê de um jeito!"


Em tempo: Otávio não tem aula de artes na escola...