terça-feira, 20 de setembro de 2011

Delicados ritos de iniciação na sociedade de consumo



O menino, com cerca de 4 anos e cabelos cacheados como os do Pequeno Príncipe, segue, dentro do carrinho de compras, levado pela mãe amorosa, entre as prateleiras e gôndolas do hipermercado. Seus olhos encantam-se com as diversidades de formas, cores, odores, e com as promessas de gostosuras e belezuras e prazeres de cada item estrategicamente acomodado. Aponta com o dedinho: quer isto, aquilo... A mãe atende a algumas solicitações, desconsidera outras, e vai abarrotando o carrinho, entre as pernas do menino, com embalagens.

Já na fila do caixa, o menino avista algumas embalagens coloridas. "Eu quero". A mãe assente. Ele segura a azul entre as mãos, feliz. Depois pergunta: -“O que é?”. A mãe explica: - “É para tomar banho, meu filho”. Uma esponja azul, na forma de borboleta, e um pequeno pote com sabonete líquido. A mãe pega mais uma, de cor laranja. Levará para outra criança. O menino compara as duas embalagens, encantado.

A fila é longa. Antes de chegar ao caixa, pelo telefone celular, a mãe liga para o esposo. O menino começa a conversar com o pai. Fala sobre o pacote colorido que tem nas mãos. Pergunta: -“Quer ver?”. E passa o aparelho de telefone pelos vários lados da embalagem, para que o pai possa ver por completo a nova aquisição. Volta a falar: -“Viu?”. E mostra mais uma vez, agora um pouco afastado do aparelho, para que o pai tenha uma vista geral. A mãe se diverte: -“Meu filho, ele não está vendo! Dê tchau ao papai, vá.” A mãe retoma a conversa com o esposo. O menino continua brincando de faz de conta: com a mãozinha ao ouvido, segurando um aparelho celular imaginário, por algum tempo dá prosseguimento à conversa com o pai. O aparelho molda o gesto, e o gesto é integrado ao corpo...

No caixa, ajuda a mãe a colocar os itens de compra sobre o balcão, sem perder de vista aqueles que foram de sua escolha. Pensa na lista interminável de itens que, deixados para trás desta vez, poderão ser levados para casa na próxima visita ao templo, o hipermercado. As mercadorias marcam o desejo, sendo incorporadas, assim, aos projetos de felicidade...




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