literatices... letras para nada, talvez para tudo... imagens de nada, que podem ser de tudo... matutações... penseros... rabiscações... daquilo que vejo... ou não... porque tomo assento neste tempo quando a humanidade produz vertiginosamente letras, símbolos e imagens, em busca de sentidos, quaisquer que sejam... ou não...
quarta-feira, 29 de julho de 2015
terça-feira, 28 de julho de 2015
De não saberes
Não sei falar mandarim
Não sei calcular viagens à Lua
Não sei quantas colônias de bactérias habitam meu corpo
Não sei fazer sapatos, nem ternos, nem chapéus
Não sei consertar redes elétricas, nem construir pontes, nem
implodir edifícios
Não sei o que vim fazer aqui...
Não sei o que vim fazer aqui...
Na lista das coisas que não sei, talvez o primeiro item deva
ser:
Não sei quais são todas as coisas que não sei
E esse não saber é o maior de todos...
sexta-feira, 24 de julho de 2015
CARTA AOS ESTUDANTES DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS
Desde maio último os funcionários das áreas técnicas e
administrativa estão em greve, com as atividades paralisadas. Reivindicam questões
salariais, mas também têm em pauta as condições de trabalho. Nesse período, quase ninguém percebeu os efeitos da greve por eles deflagrada, pois quase tudo continuou funcionando minimamente, quase dentro da normalidade, apesar de todos os problemas que já se apresentavam. Nesse mesmo
período, em muitas universidades federais o movimento grevista foi deflagrado
também pelos professores, dadas as condições absolutamente precárias do ponto
de vista dos orçamentos e funcionamento em geral com que as instituições estão operando
desde o início do ano. Alguns poucos meios de comunicação têm se dignado a divulgar alguns
dados a respeito. Mas muito menos do que deveria ser...
A cada passo, as informações que chegam aos gestores das
instituições federais de ensino superior, seus funcionários e professores, aumentam
a preocupação e evidenciam a inviabilidade de manter minimamente o
funcionamento regular.
Não tenhamos dúvidas, nem alimentem ilusões: a universidade
que todos esperam encontrar no retorno do recesso não será a mesma que foi
deixada ao final do primeiro semestre. O profundo corte orçamentário terá repercussões
graves, cuja abrangência eu ainda não consigo imaginar, mas, sabemos, é muito
extensa.
Na UFG, muitos funcionários terceirizados já foram
demitidos. Pessoas com quem trabalho há quanto tempo, em agosto, já não estarão lá.
Os serviços por eles prestados estão paralisados, ou serão paralisados em
seguida. Muitas atividades desenvolvidas por professores como parte obrigatória
de suas atuações no tripé docência/pesquisa/extensão estão suspensas (seriam mantidas
às custas dos próprios professores?...).
Fazer de conta que nada disso esteja acontecendo é, no mínimo,
tapar o sol com a peneira. Neste momento, é necessário pensar sobre o que seja
o efetivo exercício de cidadania. É necessário pensarmos nosso papel social e
nossas tomadas de posição em relação aos projetos de sociedade que pretendamos
defender. Ressalto: defender na ação, não em discursos oportunistas, nem nos
bate-bocas das redes sociais...
Este é um momento propício para a defesa da universidade, de
seus projetos, das condições efetivas de formação de profissionais em nível
superior e em pós-graduação, por todos os segmentos da comunidade que integram
a UFG. Tomar parte nesse processo também é formação, na compreensão de uma
formação mais ampla, efetivamente engajada.
Em lugar de se disseminarem lamentações e queixas sobre o
que esteja, ou não, funcionando, lamúrias vitimizadas e vitimizantes, está na
hora de se assumir o lugar responsável de cada um no projeto da educação
pública de qualidade, e se defender a instituição onde, por excelência, ela
possa ser promovida.
Por essa razão, há um indicativo de greve dos professores a
ser iniciada no dia primeiro de agosto, somando-se à greve já em curso dos
funcionários administrativos e técnicos. Não, não se tratam de férias
prolongadas. Não, não queremos a universidade parada. Ao contrário. Será preciso
que todos – professores, estudantes e funcionários das áreas técnicas e
administrativas – ocupemos a universidade. Será preciso que, juntos, possamos
discutir, perguntar sobre as condições necessárias para assegurarmos a
universidade que queremos, a nossa universidade. Não percam de vista: os
estudantes fazem parte disso. Não se omitam, neste momento!
Por fim, pergunto a vocês: A quem interessa a universidade inoperante?
quarta-feira, 22 de julho de 2015
terça-feira, 21 de julho de 2015
O que se pode aprender com uma postagem sobre dillenia, no facebook?
Na plataforma
digital de relacionamento social, pululam questões, denúncias, declarações,
afetos e desafetos, notícias, as últimas descobertas científicas, e também as
mais falsificadas... também pululam os grupos com bandeiras as mais
diversificadas, cujos membros empunham gritos de guerra no mais das vezes sem
sequer compreender-lhes os sentidos...
Foi assim
que, fazendo parte de um dos incontáveis grupos ativos, deparei-me com uma
questão que me despertou o interesse, por tratar-se de assunto diretamente
vinculado à minha própria experiência. Um dos membros postou a foto de uma
fruta pouco conhecida, perguntando se alguém lhe sabia o nome.
Há tempos
venho observando a planta que dá essa fruta. Suas folhas são plissadas, as
flores são belas, e os frutos são, no mínimo, instigantes. Da primeira vez
quando me deparei com ela, fui em busca de seu nome e histórico. Levantadas as
informações, delas me esqueci, e perdi suas pistas. Como tem sido recorrente em
nossas vidas, hoje em dia.
Feita a
postagem, rapidamente algumas pessoas começaram a tentar respostas à pergunta
do internauta, alternando nomes com imagens de outras frutas. Desde o meu
olvido, comecei a acompanhar as tentativas, em silêncio. Mas logo percebi que
as pessoas não sabiam de que planta se tratava, e estavam atribuindo a ela
nomes e referências erradas. Fiquei aflita, pois conhecendo a planta, sem lhe
saber o nome, não conseguia encontrar referência nos buscadores da rede mundial
de computadores. Fiz uma única postagem, advertindo que não era nenhuma das
plantas já referidas, que se tratava de uma planta de origem asiática (disso eu
me lembrava), e, portanto, não era nativa. Mas alguns ainda insistiam em
plantas nativas, apesar da minha observação.
Até que
alguém, mais curiosa que eu, e mais sistemática, já fizera uma pesquisa sobre a
planta, e disponibilizou, na postagem, todas as informações: nome científico,
nomes populares, ciclos, origem, características, etc. Ufa! Como é bom
encontrar alguém que tem a resposta buscada, e disposta a partilhar as informações.
Essa foi a primeira aprendizagem mais importante decorrente da postagem em
questão.
O que parecia
resolvido, no entanto, acabou revelando outro complicador, este talvez
insolúvel, relativo ao comportamento em rede.
Apesar da
resposta dada, da questão esclarecida, sem deixar margens para dúvida, as
pessoas continuaram escrevendo respostas sem ler as anteriores. Assim, muitos
insistiam em atribuir nomes errados à imagem do autor da postagem, postavam
outras imagens, comentavam propriedades de outras frutas, perguntavam sobre a
original, e ainda, enfatizando seu interesse na questão, pediam a alguém que
esclarecesse a questão (já esclarecida...).
Vez e outra,
o autor da postagem advertia seus leitores e seguidores que a questão já estava
resolvida, bastava que lessem os posts anteriores, e, gentilmente, repetia a
resposta. Mas, indiferentemente ao fato de a resposta estar ali, à vista de
todos, os demais prosseguiam fazendo sugestões, pedindo respostas.
O episódio
mostrou-me, de modo a não deixar dúvidas, o quão superficial tem sido a leitura
de informações feita pela esmagadora maioria dos usuários das redes digitais. Emitem-se
pareceres, julgamentos, sentenças a partir da apropriação de uma ou duas
frases, palavras, sugestões encontradas aligeiradamente no início ou fim de
alguma postagem.
A suposta
multifonia propiciada pelas redes sociais em ambiente digital resulta, de fato,
de um exercício insano de falar, de postar mensagens, sem que se leia, sem que
se busque estabelecer relações mais substanciais com as falas/postagens dos
demais.
Esta, a
segunda grande aprendizagem resultante dessa postagem. Dela, também fui tomada por alguns
sustos e preocupações. Dentre essas, a constatação de que as questões
coletivas, na melhor das hipóteses, reunindo pessoas com as melhores intenções,
ganham esse tipo de discussão...
Mad times... os dessa toada...
Replico os três
últimos comentários, registradas às 9:45 do dia 21 de julho. Outros virão, por
certo. Mas estes dizem bem da insanidade revelada a partir dessa postagem:
_______________________________________________
Resposta n – Por favor, quando
descobrirem, postem dizendo que fruta é, e se é comestível.
1 h • Curtir
Resposta n + 1 – Gente. A pergunta foi
respondida a muito tempo leiam as postagens mais antigas. A planta chama - se
Dillenia indica. É uma planta exótica do sudeste asiático. Sim ela é comestível
mas por ser fibrosa a melhor forma de come-la é fazendo suco ou geléia. Não é
cagaita nem marmelo!!!!!. Parem de perguntar e leiam os posts antigos!
27 min • Curtir
Resposta n + 2 – Esta fruta se chama
FRUTA PAO. a massa dela serve para colocar na farinha quando o pao esta para
ser amassado.
2 min • Curtir
_______________________________________________
Desesperador...
sexta-feira, 17 de julho de 2015
segunda-feira, 13 de julho de 2015
domingo, 12 de julho de 2015
Tributo a Seu Simião, in memorian
As
orientações para chegar ao endereço indicado eram claras: no centro de Recife,
em frente ao edifício São Rafael, o mais alto da Avenida Dantas Barreto, no
terceiro bloco do Camelódromo, de cor amarela. No piso térreo, próximo da
escada para o primeiro andar, encontrava-se a banca do Seu Simião Martiniano.
Ocupando um espaço de aproximadamente 2m x 1m, numa prateleira de metal, estavam
expostos fitas VHS, DVDs, CDs, livrinhos de cordel, aparelhos de televisão,
vídeo, DVDs e de som diversos, discos de vinil usados, fiações e outras
quinquilharias. Quase tudo à venda, disponível para ser negociado por esse cuja
experiência no comércio ultrapassava quatro décadas à época quando fui visita-lo.
De
segunda a domingo, o camelô fazia o percurso entre Jaboatão dos Guararapes,
onde residia com a família, àquele endereço, para trabalhar, “não sei bem certo
há quanto tempo, mas tem mais que 10 anos”. Quando o assunto era idade, ou
tempo, Seu Simião sorria, e se encaminhava por territórios imprecisos. De fato,
ele ocupou aquele espaço a partir da inauguração daquelas instalações, em 1994,
quando ainda era chamado de Calçadão dos Mascates, criado com o objetivo de
organizar o comércio ambulante no centro da cidade. Antes disso, trabalhava em
feiras e mercados, entre os quais cita o comércio informal do Cais de Santa
Rita, também no Bairro de São José, no centro da cidade. À época, a renda
obtida na banca complementava a parca aposentadoria.
Na
atividade como camelô, ele comercializava a mercadoria resultante de sua
grande paixão, o cinema. Os itens principais à venda eram seus próprios filmes,
e as trilhas sonoras das quais, em alguns casos, ele também assinava a autoria.
O trabalho das gravações era conciliado com o de vendedor. Quando estava
fazendo filme, aos sábados e domingos, depois de fechar sua banca no
Camelódromo, seguia para as gravações, cuja duração variava de acordo com a
natureza e as condições de realização do projeto: “Se for curto, leva uma
semana, duas, um mês, depende das condições, né? Se for por nosso trabalho,
nosso recurso, sem ajuda de outros, aí é mais semanas, aí demora mais, isso
passa até um ano pra fazer. Leva um ano pra fazer. Entendeu?”.
Sua
aproximação com o cinema começou no início da década de 1960, quando ainda
trabalhava como mestre de obras. Atuou como figurante em dois filmes dirigidos
por Pedro Teófilo, com quem também fez um curso de cinema. Os dois trabalhos
não foram finalizados, frustrando suas expectativas. Nessa mesma época, começou
a escrever e produzir a radionovela Minha
vida é um romance, baseada em fatos de sua vida. Posteriormente, o enredo
da radionovela foi transformado em um cordel. Mas, ante as muitas dificuldades
enfrentadas, decidiu acatar a sugestão da atriz carioca Greice Neves, que o
conheceu na ocasião, abandonando a ideia da radionovela, e adaptando sua
história para o cinema. Em 1979, concluiu seu primeiro filme, Traição no sertão, que mistura parte de
sua história a boas doses de ficção, com duração de quatro horas, dividido em
duas partes. Foi gravado numa câmera Super 8,
[...] pequenininha, deste tamainho
assim, né? Filmava assim, como se fosse um revólver [risos]. A imagem ruim... a
imagem muito ruim. [...] [foi] um bancário, que trabalha no filme como ator,
ele tinha [a filmadora]. Ele que ofereceu. Aí ele falou comigo, eu falei com
ele, aí a moça, a Greice Neves, vamos filmar? Vamos filmar! Inventemo de
modificar o roteiro, da novela, e aí fazer o filme.
Esse
primeiro filme foi apresentado ao público de Jaboatão dos Guararapes. No
início, muitas vezes Seu Simião projetou seus filmes num telão instalado na
rua, antes de começar a mostrá-los no circuito alternativo de cinemas
municipais. Curiosamente, ele confessava não ser frequentador de salas de
cinema: entrou em uma, pela última vez, no final dos anos 1970, para assistir a
algum filme que não seu. Mas gostava de ver filmes em casa, no aparelho de
televisão.
Desde então, dirigiu 9 filmes de longa metragem, atuou em outros tantos, e foi o tema do filme Simião Martiniano, o Camelô do Cinema, documentário de Clara Angélica e Hilton Lacerda, com duração e 14 min, realizado em 1998.
Desde então, dirigiu 9 filmes de longa metragem, atuou em outros tantos, e foi o tema do filme Simião Martiniano, o Camelô do Cinema, documentário de Clara Angélica e Hilton Lacerda, com duração e 14 min, realizado em 1998.
Onde
estiver, tomara que haja aparelhos de televisão, para que continue vendo
filmes. Mas, principalmente, que haja câmeras de vídeo, para que possa continuar
inventando e contando suas histórias...
quarta-feira, 8 de julho de 2015
quinta-feira, 2 de julho de 2015
Alvíssaras
Repeti, mentalmente, com facilidade o número da poltrona
onde me sentaria. Achei curioso, pois sempre esqueço, e necessito verificar
algumas vezes, para não errar. Mas, dessa vez, o número estava bem vivo, na
memória. Então me dei conta de que coincidia com meu endereço residencial. Sorri.
Achei que poderia ser um bom sinal. De alguma forma, viajava, sentindo-me um
pouco em casa.
Depois de aguardar algum tempo, embarquei na conexão. Sentei-me
numa janela. Ri-me, com certa ironia: de que adiantava sentar-me à janela,
viajando à noite? Seguindo com a ironia, deixei aberta. Cansada, não me demorei
a dormir. Acordei com a exuberância da lua cheia se rindo lá fora, inundando o avião com sua luz. Ficou ali, à minha vista, até o amanhecer.
Entre as brumas, e as primeiras luzes da manhã, a cidade foi emergindo. Nada poderia dar errado nessa viagem...
Assim seja!
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