Desde maio último os funcionários das áreas técnicas e
administrativa estão em greve, com as atividades paralisadas. Reivindicam questões
salariais, mas também têm em pauta as condições de trabalho. Nesse período, quase ninguém percebeu os efeitos da greve por eles deflagrada, pois quase tudo continuou funcionando minimamente, quase dentro da normalidade, apesar de todos os problemas que já se apresentavam. Nesse mesmo
período, em muitas universidades federais o movimento grevista foi deflagrado
também pelos professores, dadas as condições absolutamente precárias do ponto
de vista dos orçamentos e funcionamento em geral com que as instituições estão operando
desde o início do ano. Alguns poucos meios de comunicação têm se dignado a divulgar alguns
dados a respeito. Mas muito menos do que deveria ser...
A cada passo, as informações que chegam aos gestores das
instituições federais de ensino superior, seus funcionários e professores, aumentam
a preocupação e evidenciam a inviabilidade de manter minimamente o
funcionamento regular.
Não tenhamos dúvidas, nem alimentem ilusões: a universidade
que todos esperam encontrar no retorno do recesso não será a mesma que foi
deixada ao final do primeiro semestre. O profundo corte orçamentário terá repercussões
graves, cuja abrangência eu ainda não consigo imaginar, mas, sabemos, é muito
extensa.
Na UFG, muitos funcionários terceirizados já foram
demitidos. Pessoas com quem trabalho há quanto tempo, em agosto, já não estarão lá.
Os serviços por eles prestados estão paralisados, ou serão paralisados em
seguida. Muitas atividades desenvolvidas por professores como parte obrigatória
de suas atuações no tripé docência/pesquisa/extensão estão suspensas (seriam mantidas
às custas dos próprios professores?...).
Fazer de conta que nada disso esteja acontecendo é, no mínimo,
tapar o sol com a peneira. Neste momento, é necessário pensar sobre o que seja
o efetivo exercício de cidadania. É necessário pensarmos nosso papel social e
nossas tomadas de posição em relação aos projetos de sociedade que pretendamos
defender. Ressalto: defender na ação, não em discursos oportunistas, nem nos
bate-bocas das redes sociais...
Este é um momento propício para a defesa da universidade, de
seus projetos, das condições efetivas de formação de profissionais em nível
superior e em pós-graduação, por todos os segmentos da comunidade que integram
a UFG. Tomar parte nesse processo também é formação, na compreensão de uma
formação mais ampla, efetivamente engajada.
Em lugar de se disseminarem lamentações e queixas sobre o
que esteja, ou não, funcionando, lamúrias vitimizadas e vitimizantes, está na
hora de se assumir o lugar responsável de cada um no projeto da educação
pública de qualidade, e se defender a instituição onde, por excelência, ela
possa ser promovida.
Por essa razão, há um indicativo de greve dos professores a
ser iniciada no dia primeiro de agosto, somando-se à greve já em curso dos
funcionários administrativos e técnicos. Não, não se tratam de férias
prolongadas. Não, não queremos a universidade parada. Ao contrário. Será preciso
que todos – professores, estudantes e funcionários das áreas técnicas e
administrativas – ocupemos a universidade. Será preciso que, juntos, possamos
discutir, perguntar sobre as condições necessárias para assegurarmos a
universidade que queremos, a nossa universidade. Não percam de vista: os
estudantes fazem parte disso. Não se omitam, neste momento!
Por fim, pergunto a vocês: A quem interessa a universidade inoperante?
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