Na plataforma
digital de relacionamento social, pululam questões, denúncias, declarações,
afetos e desafetos, notícias, as últimas descobertas científicas, e também as
mais falsificadas... também pululam os grupos com bandeiras as mais
diversificadas, cujos membros empunham gritos de guerra no mais das vezes sem
sequer compreender-lhes os sentidos...
Foi assim
que, fazendo parte de um dos incontáveis grupos ativos, deparei-me com uma
questão que me despertou o interesse, por tratar-se de assunto diretamente
vinculado à minha própria experiência. Um dos membros postou a foto de uma
fruta pouco conhecida, perguntando se alguém lhe sabia o nome.
Há tempos
venho observando a planta que dá essa fruta. Suas folhas são plissadas, as
flores são belas, e os frutos são, no mínimo, instigantes. Da primeira vez
quando me deparei com ela, fui em busca de seu nome e histórico. Levantadas as
informações, delas me esqueci, e perdi suas pistas. Como tem sido recorrente em
nossas vidas, hoje em dia.
Feita a
postagem, rapidamente algumas pessoas começaram a tentar respostas à pergunta
do internauta, alternando nomes com imagens de outras frutas. Desde o meu
olvido, comecei a acompanhar as tentativas, em silêncio. Mas logo percebi que
as pessoas não sabiam de que planta se tratava, e estavam atribuindo a ela
nomes e referências erradas. Fiquei aflita, pois conhecendo a planta, sem lhe
saber o nome, não conseguia encontrar referência nos buscadores da rede mundial
de computadores. Fiz uma única postagem, advertindo que não era nenhuma das
plantas já referidas, que se tratava de uma planta de origem asiática (disso eu
me lembrava), e, portanto, não era nativa. Mas alguns ainda insistiam em
plantas nativas, apesar da minha observação.
Até que
alguém, mais curiosa que eu, e mais sistemática, já fizera uma pesquisa sobre a
planta, e disponibilizou, na postagem, todas as informações: nome científico,
nomes populares, ciclos, origem, características, etc. Ufa! Como é bom
encontrar alguém que tem a resposta buscada, e disposta a partilhar as informações.
Essa foi a primeira aprendizagem mais importante decorrente da postagem em
questão.
O que parecia
resolvido, no entanto, acabou revelando outro complicador, este talvez
insolúvel, relativo ao comportamento em rede.
Apesar da
resposta dada, da questão esclarecida, sem deixar margens para dúvida, as
pessoas continuaram escrevendo respostas sem ler as anteriores. Assim, muitos
insistiam em atribuir nomes errados à imagem do autor da postagem, postavam
outras imagens, comentavam propriedades de outras frutas, perguntavam sobre a
original, e ainda, enfatizando seu interesse na questão, pediam a alguém que
esclarecesse a questão (já esclarecida...).
Vez e outra,
o autor da postagem advertia seus leitores e seguidores que a questão já estava
resolvida, bastava que lessem os posts anteriores, e, gentilmente, repetia a
resposta. Mas, indiferentemente ao fato de a resposta estar ali, à vista de
todos, os demais prosseguiam fazendo sugestões, pedindo respostas.
O episódio
mostrou-me, de modo a não deixar dúvidas, o quão superficial tem sido a leitura
de informações feita pela esmagadora maioria dos usuários das redes digitais. Emitem-se
pareceres, julgamentos, sentenças a partir da apropriação de uma ou duas
frases, palavras, sugestões encontradas aligeiradamente no início ou fim de
alguma postagem.
A suposta
multifonia propiciada pelas redes sociais em ambiente digital resulta, de fato,
de um exercício insano de falar, de postar mensagens, sem que se leia, sem que
se busque estabelecer relações mais substanciais com as falas/postagens dos
demais.
Esta, a
segunda grande aprendizagem resultante dessa postagem. Dela, também fui tomada por alguns
sustos e preocupações. Dentre essas, a constatação de que as questões
coletivas, na melhor das hipóteses, reunindo pessoas com as melhores intenções,
ganham esse tipo de discussão...
Mad times... os dessa toada...
Replico os três
últimos comentários, registradas às 9:45 do dia 21 de julho. Outros virão, por
certo. Mas estes dizem bem da insanidade revelada a partir dessa postagem:
_______________________________________________
Resposta n – Por favor, quando
descobrirem, postem dizendo que fruta é, e se é comestível.
1 h • Curtir
Resposta n + 1 – Gente. A pergunta foi
respondida a muito tempo leiam as postagens mais antigas. A planta chama - se
Dillenia indica. É uma planta exótica do sudeste asiático. Sim ela é comestível
mas por ser fibrosa a melhor forma de come-la é fazendo suco ou geléia. Não é
cagaita nem marmelo!!!!!. Parem de perguntar e leiam os posts antigos!
27 min • Curtir
Resposta n + 2 – Esta fruta se chama
FRUTA PAO. a massa dela serve para colocar na farinha quando o pao esta para
ser amassado.
2 min • Curtir
_______________________________________________
Desesperador...
Nenhum comentário:
Postar um comentário