terça-feira, 9 de julho de 2019

Balanço provisório do percurso docente de uma professora-orientadora que, de repente, se olha no espelho, e leva um susto.


Hoje, 9 de julho, foi a banca de qualificação da tese de doutorado da Carol. Fizeram parte da banca duas mulheres especiais: Carla e Lara. E, de repente, olhando para elas, dei-me conta de que os 15 anos percorridos estavam ali, cheios de energia e vitalidade, renovados em pessoas que, agora, partilham das empreitadas, em parcerias de que não abro mão, e que me revigoram.

Respirei fundo, e revisitei um dos caminhos que constituem esse percurso: as doutoras e os doutores que estabeleceram interlocução comigo em seus processos de formação. Que gangue maravilhosa, essa, que vem se constituindo! Eu tenho muita sorte!

Das mulheres da banca de hoje, Carla é com quem há mais tempo eu tenho caminhado junto. Na verdade, desde o comecinho desses 15 anos, quando ela fazia ainda graduação. Foi minha orientanda de iniciação científica, com um trabalho belíssimo que depois foi publicado com o patrocínio da Petrobrás. Mais tarde, fez o mestrado em Barcelona, e o doutorado, do qual assumi a cotutela no processo de dupla titulação. Em seguida, Carla passou no concurso, e se tornou professora. Lado a lado, caminhamos, hoje. Carla é dessas pessoas em quem eu confio tanto, a ponto de poder discordar dela sem medo. Minha amiga, amada. 

Lara já era docente na UFG quando chegou para o doutoramento. E assumiu parceria desde o primeiro momento: partilhamos dúvidas, inquietações, sofrências, banhos de chuva, risos moleques, viagens, redes, aprendizagens, setes de filmagem. E continuamos assim, inventando modas que nos desafiam. Mas não se enganem: ela não deixa passar nada, sempre com a perspicácia sensível e crítica que orienta seu estar no mundo. Hoje integra o corpo docente de dois programas de pós-graduação, reunindo, em torno de si, um grande número de orientandos, seus interlocutores. Quase vou me sentindo, assim, meio avó...

Mas foi Aline a primeira orientanda de doutorado com ingresso por meio de seleção regular para o programa. A doce Aline, a maja dançarina de flamenco. Também foi a primeira orientanda que passou um ano fora, em Barcelona, para cumprir período de doutorado sanduíche. Andou a fazer cartografias de afetos e deslocamentos. Andou a perguntar o que pensavam e aprendiam essas gentes que andavam a se deslocar daqui para lá para estudar. Já doutora, foi ensinar primeiro em Florianópolis, e agora em Porto Alegre, professora efetiva da UFRGS. Estivemos juntas, eu, ela e Lara, num Simpósio temático da ANPAP, em Campinas, em 2017. Saudades, muitas.

Depois veio a Lara. No ano seguinte, chegou Vandimar. Vinha com perguntas, questões tantas. Tinha ganas de fotografar, produzir filmes, discutir questões com pessoas da comunidade indígena tapirapé. Passou um ano, pelo programa de doutorado sanduíche, no México. Eu estive lá, nesse período, e nos encontramos: eu, ele e Itandehuy. Depois Ita também veio para cá, com ele, e está já a concluir seu mestrado. Vandimar concluiu o doutorado logo depois de seu retorno. Ainda bem que não mais nos tenhamos perdido de vista. Por meio dele, conheci Paula, que cumpriu doutorado sanduíche no nosso programa, com a minha supervisão, entre o final de 2018 e o início de 2019.

O grupo que se seguiu foi formado por três moços queridos, cada qual com uma história tão singular e potente quanto o outro. Começo pelo Paul, que já fora, durante a graduação, meu orientando de iniciação científica e de conclusão de curso. Chegou ao mestrado e, em apenas um ano, já escrevera a dissertação completa. Assim, fez acesso direto ao doutorado. Tudo desse modo: quase sem tomar fôlego, com pressa de perguntar, de virar do avesso, com intensidades de viver. Durante o doutorado, viveu processos ainda mais intensos, além da escrita, também de criação, junto ao Grupo EmpreZa. Com Paul nunca teria sido possível estacionar no mediano. Foi assim até o final. Na semana anterior à defesa, apresentou um trabalho na feira SP Arte. Um trabalho exaustivo, que exigiu um esforço extremo de seu corpo. Terminou exaurido. Mal se recuperou, e enfrentou a banca, para a defesa. O trabalho apresentado na feira lhe valeu uma residência artística em Londres. Paul segue seu caminho como artista, como pessoa que pensa e se pergunta insistentemente. Tenho saudades de conviver com ele.

No mesmo ano do acesso de Paul ao doutorado, chegou a Goiânia Juan, vindo de Manizales, Colômbia, depois de ter feito o mestrado na Universidade de Caldas, com minha orientação. Veio pelo programa da CAPES para estudantes estrangeiros. Juan é um desses presentes que nos chegam à vida, pelo modo suave como age, sem prescindir de densidade, de seriedade, de competência. Tampouco do afeto. É um parceiro, antes de qualquer coisa, desses que não mais sairão da minha querência. Sorte a minha, pois ele, concluído o doutorado, voltou a estudar, curso de graduação, como discente de licenciatura em artes visuais. É professor numa faculdade da iniciativa privada. A universidade pública precisa de profissionais com o seu perfil. A humanidade precisa de mais Juans.

O terceiro desse grupo foi o Marcelo, que já fizera o mestrado no nosso programa, mas em outra linha. Dessa vez, enveredou pela linha c, para pensar o audiovisual e as relações de mediação. Marcelo aceitou o desafio de assumir uma turma, durante um semestre, numa escola pública do ensino médio. Ali, desenvolveu sua pesquisa, trabalhando na escola, com as e os adolescentes. Professor na universidade estadual, passou a pensar e oferecer formação, no âmbito do audiovisual, para professoras e professores da educação básica. E continuamos, nós dois, a fazer coisas juntos. Neste semestre próximo, vamos ministrar uma disciplina sobre cinema, arte e educação, para as turmas do curso de licenciatura em artes visuais na modalidade ead. O Juan vai participar, como estudante. O Renato também vai participar, como doutorando, cumprindo estágio docência.

Sobre as doutorandas e os doutorandos que ainda estão em percurso, prefiro não me estender, pois temos diferentes eitos ainda a cumprir em caminhada compartilhada. A Carol qualificou sua tese hoje. A Adriane defende em meados de agosto. O Renato deve qualificar no final de agosto. O Paulo defenderá a tese no final de novembro. No segundo semestre deste ano, um novo grupo de pós-graduandos iniciará sua caminhada, abrindo novas veredas, para outras venturas de desaprender e aprender o novo.

Eu sou mesmo uma pessoa de sorte! E continuo, cada vez mais sentimental.