Hoje, 9 de julho, foi a banca de qualificação da tese de
doutorado da Carol. Fizeram parte da banca duas mulheres especiais: Carla e
Lara. E, de repente, olhando para elas, dei-me conta de que os 15 anos
percorridos estavam ali, cheios de energia e vitalidade, renovados em pessoas
que, agora, partilham das empreitadas, em parcerias de que não abro mão, e que
me revigoram.
Respirei fundo, e revisitei um dos caminhos que constituem
esse percurso: as doutoras e os doutores que estabeleceram interlocução comigo
em seus processos de formação. Que gangue maravilhosa, essa, que vem se constituindo!
Eu tenho muita sorte!
Das mulheres da banca de hoje, Carla é com quem há mais
tempo eu tenho caminhado junto. Na verdade, desde o comecinho desses 15 anos,
quando ela fazia ainda graduação. Foi minha orientanda de iniciação científica,
com um trabalho belíssimo que depois foi publicado com o patrocínio da
Petrobrás. Mais tarde, fez o mestrado em Barcelona, e o doutorado, do qual assumi
a cotutela no processo de dupla titulação. Em seguida, Carla passou no concurso,
e se tornou professora. Lado a lado, caminhamos, hoje. Carla é dessas pessoas em quem eu confio tanto, a ponto de poder discordar dela sem medo. Minha amiga, amada.
Lara já era docente na UFG quando
chegou para o doutoramento. E assumiu parceria desde o primeiro momento: partilhamos
dúvidas, inquietações, sofrências, banhos de chuva, risos moleques, viagens, redes,
aprendizagens, setes de filmagem. E continuamos assim, inventando modas que nos
desafiam. Mas não se enganem: ela não deixa passar nada, sempre com a
perspicácia sensível e crítica que orienta seu estar no mundo. Hoje integra o
corpo docente de dois programas de pós-graduação, reunindo, em torno de si, um grande
número de orientandos, seus interlocutores. Quase vou me sentindo, assim, meio
avó...
Mas foi Aline a primeira orientanda de doutorado com
ingresso por meio de seleção regular para o programa. A doce Aline, a maja dançarina
de flamenco. Também foi a primeira orientanda que passou um ano fora, em
Barcelona, para cumprir período de doutorado sanduíche. Andou a fazer
cartografias de afetos e deslocamentos. Andou a perguntar o que pensavam e
aprendiam essas gentes que andavam a se deslocar daqui para lá para estudar. Já
doutora, foi ensinar primeiro em Florianópolis, e agora em Porto Alegre,
professora efetiva da UFRGS. Estivemos juntas, eu, ela e Lara, num Simpósio
temático da ANPAP, em Campinas, em 2017. Saudades, muitas.
Depois veio a Lara. No ano seguinte, chegou Vandimar. Vinha
com perguntas, questões tantas. Tinha ganas de fotografar, produzir filmes,
discutir questões com pessoas da comunidade indígena tapirapé. Passou um ano, pelo
programa de doutorado sanduíche, no México. Eu estive lá, nesse período, e nos
encontramos: eu, ele e Itandehuy. Depois Ita também veio para cá, com ele, e
está já a concluir seu mestrado. Vandimar concluiu o doutorado logo depois de
seu retorno. Ainda bem que não mais nos tenhamos perdido de vista. Por meio
dele, conheci Paula, que cumpriu doutorado sanduíche no nosso programa, com a minha
supervisão, entre o final de 2018 e o início de 2019.
O grupo que se seguiu foi formado por três moços queridos,
cada qual com uma história tão singular e potente quanto o outro. Começo pelo
Paul, que já fora, durante a graduação, meu orientando de iniciação científica
e de conclusão de curso. Chegou ao mestrado e, em apenas um ano, já escrevera a
dissertação completa. Assim, fez acesso direto ao doutorado. Tudo desse modo:
quase sem tomar fôlego, com pressa de perguntar, de virar do avesso, com
intensidades de viver. Durante o doutorado, viveu processos ainda mais intensos,
além da escrita, também de criação, junto ao Grupo EmpreZa. Com Paul nunca
teria sido possível estacionar no mediano. Foi assim até o final. Na semana
anterior à defesa, apresentou um trabalho na feira SP Arte. Um trabalho
exaustivo, que exigiu um esforço extremo de seu corpo. Terminou exaurido. Mal se
recuperou, e enfrentou a banca, para a defesa. O trabalho apresentado na feira
lhe valeu uma residência artística em Londres. Paul segue seu caminho como
artista, como pessoa que pensa e se pergunta insistentemente. Tenho saudades de
conviver com ele.
No mesmo ano do acesso de Paul ao doutorado, chegou a
Goiânia Juan, vindo de Manizales, Colômbia, depois de ter feito o mestrado na
Universidade de Caldas, com minha orientação. Veio pelo programa da CAPES para estudantes
estrangeiros. Juan é um desses presentes que nos chegam à vida, pelo modo suave
como age, sem prescindir de densidade, de seriedade, de competência. Tampouco do
afeto. É um parceiro, antes de qualquer coisa, desses que não mais sairão da
minha querência. Sorte a minha, pois ele, concluído o doutorado, voltou a estudar,
curso de graduação, como discente de licenciatura em artes visuais. É professor
numa faculdade da iniciativa privada. A universidade pública precisa de
profissionais com o seu perfil. A humanidade precisa de mais Juans.
O terceiro desse grupo foi o Marcelo, que já fizera o
mestrado no nosso programa, mas em outra linha. Dessa vez, enveredou pela linha
c, para pensar o audiovisual e as relações de mediação. Marcelo aceitou o
desafio de assumir uma turma, durante um semestre, numa escola pública do
ensino médio. Ali, desenvolveu sua pesquisa, trabalhando na escola, com as e os
adolescentes. Professor na universidade estadual, passou a pensar e oferecer
formação, no âmbito do audiovisual, para professoras e professores da educação básica.
E continuamos, nós dois, a fazer coisas juntos. Neste semestre próximo, vamos
ministrar uma disciplina sobre cinema, arte e educação, para as turmas do curso
de licenciatura em artes visuais na modalidade ead. O Juan vai participar, como
estudante. O Renato também vai participar, como doutorando, cumprindo estágio docência.
Sobre as doutorandas e os doutorandos que ainda estão em
percurso, prefiro não me estender, pois temos diferentes eitos ainda a cumprir
em caminhada compartilhada. A Carol qualificou sua tese hoje. A Adriane defende em meados de agosto. O Renato deve qualificar no final de agosto. O Paulo defenderá a tese no final de novembro. No segundo semestre deste ano, um novo grupo de pós-graduandos iniciará sua caminhada, abrindo novas
veredas, para outras venturas de desaprender e aprender o novo.
Eu sou mesmo uma pessoa de sorte! E continuo, cada vez mais
sentimental.
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