quinta-feira, 31 de maio de 2012

terça-feira, 29 de maio de 2012

Tramas à beira dos caminhos - edição 2012

instruções de uso:
1. junte materiais diversos que você tenha à mão: tecidos, barbantes, fitas, arames, plásticos, penduricalhos, cordas, atilhos, faixas etc.
2. venha até a área do campus onde faremos a ação. Entre os dias 30 de maio e 13 de junho, escolha os dias e horários que melhor se adequem à sua disponibilidade, e venha! Se preferir trabalhar em boa companhia, os alunos do Núcleo Livre Oficina dos Fios estarão lá nos dias 30 de maio, 6 e 13 de junho, na parte da tarde.
3. escolha um lugar para fazer suas tramas sobre a tela da cerca. Talvez você prefira manter uma interação mais próxima com a vegetação, e escolha os lugares onde galhos e folhas encobrem a cerca; talvez seja melhor trabalhar onde a malha da cerca não sofre nenhuma outra interferência. Há também os trabalhos do ano passado, que resistiram ao tempo, mas estão desgastados: quem sabe você queria experimentar interagir com eles, trabalhando sobre e/ou a partir dos elementos que ainda estão por lá?
4. mãos à obra: é só trabalhar! Lembre-se: o vento, a chuva, os macacos exercem influência sobre o trabalho. Se os materiais forem fixados fragilmente, rapidamente já se terão perdido. Se a proposta for a de buscar maior permanência sobre a cerquinha, há que atentar para melhores amarrações, fixações mais fortes sobre os suportes.
5. por falar em macacos, eles são curiosos, e gostam de ficar por ali, examinando tudo. Aproveite e curta a companhia!
Boas tramas!





o homem

na noite quase silenciosa
em containers abarrotados
o homem vasculha descartes 
selecionando itens recicláveis.
que são acomodados
em seu carrinho-forma-orgânica 
cheio de plasticidade.




entre os recicláveis, embalados em sacos de plástico
encontra restos de comida
alguma coisa, qualquer coisa que lhe sirva de refeição



sábado, 26 de maio de 2012

Perdidos na W3 sul, antes da era do celular.



Corria o ano de 1994. Combinamos de jantar no Restaurante Espanhol, que ficava na Avenida W3, na altura da 504 ou da 505 sul. Nem ele nem eu estávamos certos do endereço. Eu estivera lá algumas poucas vezes, e sempre acabava chegando sem lembrar ao certo qual era a quadra. Na hora acertada, cheguei ao endereço. Quer dizer, onde eu pensava que fosse. Não era lá. Teria eu me enganado quanto à quadra? Procurei na quadra seguinte. Também não era lá. Tampouco na quadra anterior.

A essas alturas, o tempo avançava, e eu não sabia o que se passava com ele, se também estava procurando o endereço. Resolvi retornar ao primeiro lugar que eu havia procurado. Encontrei o vigia de alguma loja vizinha. Ele me falou que o restaurante era ali mesmo, mas fechara há pouco. Perguntei se mais alguém havia procurado pelo restaurante naquela noite. Pela descrição que o vigia fez, concluí que, como eu, meu parceiro já estivera ali também.

Voltei a rodar pela avenida mais algumas vezes, com o meu fusquinha amarelo limão, de nome Marquito. Tinha a esperança de cruzar com o chevetinho vermelho dele, de nome Ivan, o Vermelho. Não funcionou: não nos encontramos. Decidi, então, retornar ao ponto de partida: minha residência. Ele teve a mesma ideia, ainda bem. Chegamos quase juntos. Rimos muito da situação. Seguimos, juntos, ao local mais próximo para fazer um lanche, tanta fome.



copo cheio



...
é sempre bom lembrar
que o copo vazio
está cheio de ar
...




sexta-feira, 25 de maio de 2012

dar carinho sem saber a quem



Tocou o telefone. Minha irmã atendeu. Passou para a minha mãe, que fez um gesto questionando quem fosse. Minha irmã respondeu: Rose. Minha mãe levou ao ouvido, disse Alô, meio sem saber quem fosse. Abriu um sorriso: Oi, meniiiina! Saiu pela casa rindo-se, e conversando com sua interlocutora, do outro lado da linha. Entre suas falas, ouvia-se frases tais como Que coisa boa, meu coração. Perguntei à minha irmã quem era. Ela não sabia. E observou É bem capaz que a mãe também não saiba. Rimos, observando a cena. Quando minha mãe desligou o telefone, veio fazendo uma expressão de interrogação. Quem era? Não tinha a menor ideia. A voz da Rose era familiar, a Rose disse que estava com saudades dela, contou coisas corriqueiras da vida. Mas mãe, como pode? Ora, minha filha, eu dou carinho mesmo sem saber para quem...


Horas mais tarde, lembrou-se: Ah, a Rose é uma moça que trabalhava como caixa na mercearia! Tão querida! A moça foi demitida há quase um ano. Hoje resolveu ligar para ela, para conversar.



segunda-feira, 21 de maio de 2012

domingo, 20 de maio de 2012

encantamentos




um pouco de luz atravessa a folhagem
indo bater-se na vidraça da janela


a janela... 
que luzes protege? e de que?
que olhares se esgueiram por trás? 
verão a luz atravessando a folhagem, indo bater-se na vidraça?


basta essa luz, a vidraça, a janela, os mistérios...
já me encanta...



quinta-feira, 17 de maio de 2012

pela primeira vez aqui?



gosto de chegar sozinha a uma cidade desconhecida.
a vulnerabilidade e a solidão se fazem sentir de modo mais intenso nessa condição
empurrando-me para espaços internos que, na maior parte do tempo, estão anestesiados.


e quando chego à cidade que não conheço
o que me encanta não são os monumentos
os grandes eventos, as festas, os espetáculos


encanta-me a luz do sol atravessando algum arbusto numa esquina qualquer
o vento brincando com os cabelos da moça distraída
o barulho das folhas secas quebradas sob os pés dos passantes
os olhos da criança que me nota, e se ri, ou faz uma careta
a senhorinha que caminha com dificuldade, apoiada em sua bengala


as gentes


as gentes, que são a cidade.







terça-feira, 15 de maio de 2012

olvidos...





...
el olvido está lleno de memoria
que a veces no caben las remembranzas
y hay que tirar rencores por la borda
en el fondo el olvido es un gran simulacro
nadie sabe ni puede / aunque quiera / olvidar
un gran simulacro repleto de fantasmas
esos romeros que peregrinan por el olvido
como si fuese el camino de santiago
...
( Mario Benedetti )


Es una posesión, porque el olvido
es una de las formas de la memoria, 
su vago sótano,
la otra cara secreta de la moneda
(Jorge Luis Borges)






sábado, 12 de maio de 2012

SEMINARIO DE FORMACIÓN DOCENTE 2012 - UFAD/UDELAR




SEMINARIO DE FORMACIÓN DOCENTE 2012
UFAD/UDELAR
Montevideo – Uruguay 


O Beijoqueiro



Organizando material para uma palestra, deparei-me com a lembrança de uma figura que ocupou lugar na mídia dos anos 80, por tomar para si o desafio de beijar celebridades, driblando os esquemas de segurança: o Beijoqueiro, como ficou conhecido nacionalmente.

Tratava-se do senhor José Alves, português, radicado no Brasil. A história começou quando, em 1980, numa apresentação do Frank Sinatra no Maracanã, Rio de Janeiro, ele foi desafiado por amigos a beijar a face do cantor. Sua façanha ganhou repercussão na mídia, e a partir de então ele tomou gosto pela coisa, tendo beijado figuras como Roberto Carlos, Brizola, jogadores de futebol, entre outros. Em plena ditadura militar, tínhamos um serial kisser, como o cineasta Carlos Nader o definiu num documentário realizado em 1982.

Eu testemunhei uma dessas situações. Estava no Maracanã, assistindo a um clássico Fla-Flu, quando ele invadiu o campo, para beijar o Zico, o nosso Galinho de Quintino. Foi uma confusão na arquibancada, aquele bolo de gente, seguida da invasão no campo e a interrupção do jogo. Depois os policiais entraram em ação. Demorou para que descobríssemos do que se tratava. Correu um burburinho: "É o Beijoqueiro!" 


Mais tarde, em casa, acompanhamos, nos noticiários televisivos, os detalhes do ocorrido. Ele foi espancado pelos policiais, tendo algumas costelas quebradas. Detido, foi submetido a exames para averiguação sobre sua sanidade mental. Tirando os ossos e os dentes quebrados, estava tudo certo com ele. O juiz que acompanhou o caso foi inflexível em sua sentença: “Beijar não é crime. Quem dera se todos os delinquentes do Brasil trocassem suas armas por beijos”.

Quem dera!



sábado, 5 de maio de 2012

medo




Tenho medo (Nuno Mindelis)

Tenho medo de microondas
Tenho medo de aspartame
Tenho medo de fritura
E tenho medo de madame

Eu tenho medo da cidade
Medo da solidão
Eu tenho medo de ser duro
E medo de dizer ou não.

Tenho medo de barata
De aranha e de ladrão
Medo disso e daquilo
E medo de multidão

Eu tenho medo de mim mesmo
De você e do vizinho
Eu tenho medo de remédio
E medo de andar sozinho
Eu tenho medo
Medo

Tenho medo de automóvel
E de engarrafamento
Tenho medo de açúcar
E sair do apartamento

Tenho medo de TV
E de gordura hidrogenada
Do presidente americano
De caminhão e de fada

Tenho medo de celular
Tenho medo de avião
Tenho medo de dirigir
E de tomar a decisão

Tenho medo de ter medo
E de não ter medo também
Tenho medo de ir embora
E tenho medo de ir além

Eu tenho medo
Eu tenho, eu tenho
Eu tenho medo

Tenho medo de altura
E de ir à praia no feriado
Medo de elevador
E de tudo que é fechado

Eu tenho medo de dormir
E de ficar acordado
Medo de minha própria sombra
E da sua ao meu lado

Eu tenho medo de barata
De aranha e de ladrão
Medo disso e daquilo
E medo de multidão

Eu tenho medo de ter medo
E de não ter medo também
Eu tenho medo de ir embora
E tenho medo de ir além
Tenho medo

Eu tenho, eu tenho, eu tenho
Eu tenho medo







quinta-feira, 3 de maio de 2012

fronteiras que se desfazem: de que fronteiras estamos falando?



Para meu avô Francisco e minha avó Antônia,
 que no início do século XX viajaram durante 6 meses,
 desde o sul do país, atravessando fronteiras várias,
 para se instalar no limite entre Brasil e Paraguai.


Na segunda década do terceiro milênio da Era Cristã, no Ocidente, são recorrentes os discursos, nos circuitos intelectuais e artísticos, no âmbito das ciências e também no senso comum, que articulam defesas entusiasmadas deste como sendo o tempo quando os territórios – geográficos, culturais, e quaisquer outros – se sobrepõem, as identidades se tornam impermanentes, e as fronteiras se desfazem, esboroam-se sob o avanço das tecnologias da comunicação, o avanço dos movimentos do mercado e suas mercadorias, a ampliação e sofisticação do desejo dos consumidores, as diásporas, as migrações, os interesses de ordem econômica...

Antes que o consenso autorize o compartilhamento coletivo passivo a esse respeito, é preciso retomar algumas perguntas que antecedem a conformação de tais convicções: Que fronteiras são referidas nesses casos? Que dissolução ou esboroamento estão em curso? Do ponto de vista de quais sujeitos sociais? Atendendo a que interesses nas relações de força que não concedem tréguas em conflitos e tensões nem sempre explicitados? Quando não terá sido assim?


Cedo à tentação de imaginar a grande saga humana, desde os primeiros homens em África, rumo aos quatro cantos do mundo, inclusive às Américas (que só seriam assim chamadas muitos milênios depois de sua chegada...). Quantas fronteiras terão sido dissolvidas, esboroadas, ao longo desse decurso? E quantas outras terão sido erguidas, muitas das quais na ilusória esperança de serem definitivas, ou quem sabe apenas para assegurar a próxima etapa da caminhada.

Identidades móveis, diásporas, migrações. Nômades, ou sedentários? A humanidade teria sido, em algum momento, sedentária? O que é o nomadismo?