Para meu avô Francisco e minha avó Antônia,
que no início do século XX viajaram durante 6 meses,
desde o sul do país, atravessando fronteiras várias,
para se instalar no limite entre Brasil e Paraguai.
Na segunda década do terceiro milênio da Era Cristã, no
Ocidente, são recorrentes os discursos, nos circuitos intelectuais e
artísticos, no âmbito das ciências e também no senso comum, que articulam
defesas entusiasmadas deste como sendo o tempo quando os territórios –
geográficos, culturais, e quaisquer outros – se sobrepõem, as identidades se
tornam impermanentes, e as fronteiras se desfazem, esboroam-se sob o avanço das
tecnologias da comunicação, o avanço dos movimentos do mercado e suas
mercadorias, a ampliação e sofisticação do desejo dos consumidores, as
diásporas, as migrações, os interesses de ordem econômica...
Antes que o consenso autorize o compartilhamento coletivo
passivo a esse respeito, é preciso retomar algumas perguntas que antecedem a conformação
de tais convicções: Que fronteiras são referidas nesses casos? Que dissolução
ou esboroamento estão em curso? Do ponto de vista de quais sujeitos sociais? Atendendo
a que interesses nas relações de força que não concedem tréguas em conflitos e tensões
nem sempre explicitados? Quando não terá sido assim?
Cedo à tentação de imaginar a grande saga humana, desde os primeiros homens em África, rumo aos quatro cantos do mundo, inclusive às Américas (que só seriam assim chamadas muitos milênios depois de sua chegada...). Quantas fronteiras terão sido dissolvidas, esboroadas, ao longo desse decurso? E quantas outras terão sido erguidas, muitas das quais na ilusória esperança de serem definitivas, ou quem sabe apenas para assegurar a próxima etapa da caminhada.
Identidades móveis, diásporas, migrações. Nômades, ou sedentários?
A humanidade teria sido, em algum momento, sedentária? O que é o nomadismo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário