O dia seguia calorento, já quase sol a pino, quando o Xodó voltou de mais uma de suas caçadas no campo. Manchas avermelhadas de terra em seu pelo branco denunciavam que tinha havido luta. Na boca, trazia
presos um pássaro pequeno e uma lagartixa. Entrou pela varanda, cansado. Sentindo-se
em território seguro, deitou sobre o piso frio, para refrescar o ventre. Num
gesto de alívio, fechou os olhos um instante. Uma filigrana
de relaxamento percorreu seu sistema nervoso. O pássaro, que, embora tonto, não estava morto, sentiu o imperceptível afrouxamento da mandíbula felina que o mantinha preso
aos dentes do seu algoz. Não perderia a única oportunidade de agarrar-se à
vida. Num átimo de tempo, reuniu toda a sua pequena força, e voou agilmente,
até a copa da árvore mais próxima. Seu bater de asas assustou o gato, que girou rapidamente a cabeça na direção para onde fugira a ave.
Então a lagartixa, que se fizera de morta até ali, sem estar, também reconheceu
o momento de sua salvação. Escapuliu-se na direção oposta. Deslizou rápida até a fresta mais próxima, e dali
desapareceu. Xodó estava cansado demais para enfrentar qualquer outro embate. Compreendeu
que ganhara duas batalhas, mas perdera seus reféns. Permaneceu ali, deitado,
recobrando as energias. Mais tarde, ganhou um prato de comida preparado para
ele por minha mãe. Se mais vale um pássaro na mão do que dois voando, também mais vale
uma caça morta na boca do que um pássaro e uma lagartixa meio tontos, mas prontos para fugir.
literatices... letras para nada, talvez para tudo... imagens de nada, que podem ser de tudo... matutações... penseros... rabiscações... daquilo que vejo... ou não... porque tomo assento neste tempo quando a humanidade produz vertiginosamente letras, símbolos e imagens, em busca de sentidos, quaisquer que sejam... ou não...
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domingo, 1 de julho de 2012
sábado, 30 de junho de 2012
Discernimentos...
para o Xodó, um gato lindo que habitou minha infância...
Todas as manhãs, eu moía um pouco de milho, para
alimentar os pintinhos, sempre numerosos. Mas os frangotes e as galinhas disputavam
a quirera com os menores. Estes ficavam sempre em desvantagem no embate. Então
minha mãe construiu um cercado de tela, coberto, com uma abertura pequena,
rente ao chão, pela qual os maiores não conseguiam passar, mas os pintinhos
entravam. Logo eles aprenderam a se alimentar ali. E também as pombinhas, para
quem a pequena abertura parecia ter sido feita sob medida. Minha mãe, que
achava um desaforo que se moesse quirera para dar aos pombos, colocou o gato em
ação. Atenta, quando avistava alguma pomba no cercadinho dos pintinhos,
imprimia certo tom reconhecível na voz: “Xodó,
Xodó, Xodó, Xodó!”. O gato, de pelos muito brancos e espírito predador,
atendia ao chamado. Num piscar de olhos, estava dentro do cercadinho, com a
pombinha em suas garras, sem ofender um pintinho sequer. Foi considerado aliado
de minha mãe, até o dia em subiu num pé de erva, alcançando uma casinha de
João-de-barro, abocanhando o passarinho construtor. Minha mãe fez o flagrante,
e deu uma surra no Xodó. Pombinha pode, mas João-de-barro não pode! Como o
pobre gato poderia compreender? Na dúvida, melhor fugir...
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