O dia seguia calorento, já quase sol a pino, quando o Xodó voltou de mais uma de suas caçadas no campo. Manchas avermelhadas de terra em seu pelo branco denunciavam que tinha havido luta. Na boca, trazia
presos um pássaro pequeno e uma lagartixa. Entrou pela varanda, cansado. Sentindo-se
em território seguro, deitou sobre o piso frio, para refrescar o ventre. Num
gesto de alívio, fechou os olhos um instante. Uma filigrana
de relaxamento percorreu seu sistema nervoso. O pássaro, que, embora tonto, não estava morto, sentiu o imperceptível afrouxamento da mandíbula felina que o mantinha preso
aos dentes do seu algoz. Não perderia a única oportunidade de agarrar-se à
vida. Num átimo de tempo, reuniu toda a sua pequena força, e voou agilmente,
até a copa da árvore mais próxima. Seu bater de asas assustou o gato, que girou rapidamente a cabeça na direção para onde fugira a ave.
Então a lagartixa, que se fizera de morta até ali, sem estar, também reconheceu
o momento de sua salvação. Escapuliu-se na direção oposta. Deslizou rápida até a fresta mais próxima, e dali
desapareceu. Xodó estava cansado demais para enfrentar qualquer outro embate. Compreendeu
que ganhara duas batalhas, mas perdera seus reféns. Permaneceu ali, deitado,
recobrando as energias. Mais tarde, ganhou um prato de comida preparado para
ele por minha mãe. Se mais vale um pássaro na mão do que dois voando, também mais vale
uma caça morta na boca do que um pássaro e uma lagartixa meio tontos, mas prontos para fugir.
Alice, vale muito também um prato de comida boa e afetuosa, após desilusões, desencantos e frustrações. Cheiro. Rosi.
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