quinta-feira, 12 de julho de 2012

Ainda sobre fronteiras




O grupo de pesquisadores saiu, no início da noite, num micro-ônibus, da fronteira em direção à capital do Estado, para dali seguir por avião às suas cidades de origem. Estavam animados com os resultados do evento científico, e também pelo trânsito pela borda do país, região limítrofe, a transformar-se em outro país, outra gente, outros falares...

Fronteira. Palavra tão recorrente nas discussões sobre cultura contemporânea. Suas porosidades são anunciadas. Fronteiras: até parece que elas estão lá para serem negadas, desconstruídas. A missão é mostrar sua inoperância em tempos que fazem questão de desconhecê-las, desconsiderá-las. Talvez por isso mesmo, a ideia de fronteira política e geográfica parecia algo tão exótica ao grupo de pesquisadores.

E então sucedeu o que era provável, mas que não constava na lista de expectativas, ao menos não daquele grupo especificamente. Mal iniciada a viagem, o micro-ônibus foi parado, para fins de vistoria, por um destacamento de policiais federais. Com cães farejadores, percorreram todos os espaços da condução, examinaram bagagens, passageiros e motorista.

Os passageiros, respeitáveis pesquisadores, professoras e professores que portam uma bagagem cultural de se respeitar, foram tratados como bandidos. No mínimo como suspeitos potenciais. Apavoraram-se com a brutalidade da ação. Desesperaram-se, a bem da verdade. A operação estendeu-se por mais de uma hora.

Ao fim e ao cabo, dado o avançado da hora, e o estado de tensão em que todos se encontravam, retornaram à cidadela da fronteira, para seguirem no dia seguinte muito cedo. Temerosos, ainda, de passarem, mais uma vez, por situação semelhante.

Ilude-se quem acredite na flexibilização ou mesmo na derrubada das fronteiras. Elas continuam erigidas, ameaçadoras, demarcando territórios regidos por leis que não as ensinadas nos cursos de Direito, nem vigentes nos códigos oficiais da nação.



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