O grupo de pesquisadores saiu, no início da noite, num
micro-ônibus, da fronteira em direção à capital do Estado, para dali seguir por
avião às suas cidades de origem. Estavam animados com os resultados do evento
científico, e também pelo trânsito pela borda do país, região limítrofe, a transformar-se em outro país, outra gente, outros falares...
Fronteira. Palavra tão recorrente nas discussões sobre
cultura contemporânea. Suas porosidades são anunciadas. Fronteiras: até parece que elas estão lá
para serem negadas, desconstruídas. A missão é mostrar sua inoperância em
tempos que fazem questão de desconhecê-las, desconsiderá-las. Talvez por isso
mesmo, a ideia de fronteira política e geográfica parecia algo tão exótica ao
grupo de pesquisadores.
E então sucedeu o que era provável, mas que não constava
na lista de expectativas, ao menos não daquele grupo especificamente. Mal iniciada a
viagem, o micro-ônibus foi parado, para fins de vistoria, por um destacamento
de policiais federais. Com cães farejadores, percorreram todos os espaços da condução,
examinaram bagagens, passageiros e motorista.
Os passageiros, respeitáveis pesquisadores, professoras e
professores que portam uma bagagem cultural de se respeitar, foram tratados como bandidos. No mínimo como suspeitos potenciais. Apavoraram-se com
a brutalidade da ação. Desesperaram-se, a bem da verdade. A operação estendeu-se
por mais de uma hora.
Ao fim e ao cabo, dado o avançado da hora, e o estado de tensão
em que todos se encontravam, retornaram à cidadela da fronteira, para seguirem
no dia seguinte muito cedo. Temerosos, ainda, de passarem, mais uma vez, por situação
semelhante.
Ilude-se quem acredite na flexibilização ou mesmo na
derrubada das fronteiras. Elas continuam erigidas, ameaçadoras, demarcando
territórios regidos por leis que não as ensinadas nos cursos de Direito, nem
vigentes nos códigos oficiais da nação.
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