sábado, 30 de junho de 2012

Discernimentos...


para o Xodó, um gato lindo que habitou minha infância...


Todas as manhãs, eu moía um pouco de milho, para alimentar os pintinhos, sempre numerosos. Mas os frangotes e as galinhas disputavam a quirera com os menores. Estes ficavam sempre em desvantagem no embate. Então minha mãe construiu um cercado de tela, coberto, com uma abertura pequena, rente ao chão, pela qual os maiores não conseguiam passar, mas os pintinhos entravam. Logo eles aprenderam a se alimentar ali. E também as pombinhas, para quem a pequena abertura parecia ter sido feita sob medida. Minha mãe, que achava um desaforo que se moesse quirera para dar aos pombos, colocou o gato em ação. Atenta, quando avistava alguma pomba no cercadinho dos pintinhos, imprimia certo tom reconhecível na voz: “Xodó, Xodó, Xodó, Xodó!”. O gato, de pelos muito brancos e espírito predador, atendia ao chamado. Num piscar de olhos, estava dentro do cercadinho, com a pombinha em suas garras, sem ofender um pintinho sequer. Foi considerado aliado de minha mãe, até o dia em subiu num pé de erva, alcançando uma casinha de João-de-barro, abocanhando o passarinho construtor. Minha mãe fez o flagrante, e deu uma surra no Xodó. Pombinha pode, mas João-de-barro não pode! Como o pobre gato poderia compreender? Na dúvida, melhor fugir...





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