Em 2011, dentro das atividades desenvolvidas na Oficina
dos Fios, iniciamos uma ação coletiva, aberta, de intervenção na cerca em torno
da matinha, no campus universitário
onde trabalho. Os espaços ocupados ficam à margem das calçadas cobertas, por
onde transitam as pessoas da comunidade universitária, e demais usuários
daquele espaço. Tramas à beira dos caminhos, assim foi batizada a ação.
Desde 2011, venho observando a ação do tempo sobre as
primeiras intervenções. Em que consiste essa “ação do tempo”? Imaginava, eu, de
um modo quase ingênuo, que poderia enumerar alguns itens sob essa categoria:
efeitos das variações climáticas e dos ciclos dia/noite sobre o trabalho, ações
de animais de pequeno e pequeníssimo porte (penso nos macacos, em formigas,
etc.), e também na ação de pessoas subtraindo peças, objetos (afinal, expostos
em espaço aberto, disponíveis em certa medida).
Na medida do tempo passando, as linhas e fitas, os cordões
e tecidos foram perdendo o brilho que lhes dava uma vivacidade inicial, mas foram
sendo integrados à paisagem. O adventício, inaugural, que ainda não foi
incorporado ao seu contexto, tem as feições do estranhamento. Precisa aprender a
ser ali. E aprender a ser ali pressupõe, também, certo borramento entre aquilo
que diferencia o que chega em relação ao que já está desde antes (desde quando?). Se as tramas perderam o brilho, ganharam
feições de pertencimento, tecidas/tramadas na passagem do tempo, das horas, dos
dias...
Em 2012, retomamos, com outro grupo, as intervenções, na
mesma cerca, adiante. Ao lado dos trabalhos amadurecidos, novos brilhos se
instalaram, para iniciar o lento processo de integração ao espaço. Ressalto a alegria que marca esses momentos da ação: fios e tecidos coloridos, conversas, risos, movimento. E o prazer em observar as formas tecidas/bordadas integrando o lugar.
Então me deparei com um novo item a ser incluído no rol
dos fatores que intervêm na “ação do tempo”: a ação humana, impaciente, prenhe
de afetos, desejos, urgências, precipitando processos, antecipando corrosões (talvez devesse incluir, na lista, um item para animais de grande porte...).
Pois bem, apresento os fatos: poucos dias depois de realizados, quase todos os trabalhos
sofreram a ação de algum instrumento de corte agilmente conduzido por mãos passantes.
O fio da lâmina deixa marcas pouco orgânicas. Não é rasgo, não é desgaste. Fala
de um gesto que não quer esperar, que antecipa um efeito de desfazimento, que
interrompe os fluxos aqui, agora. É trama, mas é trama brusca, que vocifera: “Não!”.
Quando nos dispomos a tramar à beira dos caminhos, é
preciso lembrar que contaremos com a companhia não apenas de Eros: Thanatos
também quer participar...
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