domingo, 18 de setembro de 2011

A menina que queria fotografar as estrelas


p/ Julia, querida, que também é menina, queria ser a moça do tempo,
 e hoje anda por aí, ensinando crianças a fotografar estrelas...

Julia conversava com as crianças sobre as fotografias que elas tinham feito. Cada uma ia explicando o que estava nas fotos, e como as realizara. Umas tinham ficado escuras, outras tinham sido batidas a contra-luz. Podiam se ver auto-retratos, familiares, hortas, árvores, porcos, vacas, gatinhos, papagaios, galinhas, quintais, aves passando em bando pelo céu, por do sol. Entre as vozes tagarelas, sobressaiu-se uma, delicada, em confissão: -"Eu queria fotografar as estrelas..."

Pensei no meu encantamento pelo céu, desde quando tinha a mesma idade que ela tem hoje. Sorri. Pensei, também, no modo como sou movida a fotografar certos acontecimentos cíclicos, a cada nova estação.

A menina pensa nas estrelas do céu. A estas alturas do ano, eu penso nas sapucaias tingindo de cor vinho escuro alguns trechos da Asa Norte, em Brasília. Época de brotação e floração. As folhas novas vêm com viço, num tom avermelhado escuro, que vai se tornando vinho, até chegar ao verde escuro, já amadurecidas. Junto com elas, as pequenas flores lilases, de vida breve, rapidamente cobrem o chão com sua coloração e perfume.

A cada ano, aguardo com expectativa por esta época, para fotografá-las. Nem sempre consigo. Quando é possível, busco novos enquadramentos, ângulos, luminosidades. Mas as fotos não capturam os odores que envolvem as árvores, a brisa movendo as folhas, a temperatura aquecendo - por vezes mais do que o confortável - o solo sobre o qual repousam as flores caídas. A magia que busco fixar na fotografia me escapa. As marcas que deixa, as deixa em mim, não na imagem.

Como as estrelas, impressas nos sonhos da pequena em suas primeiras aventuras com uma câmera fotográfica na mão.



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