“Eu estou cansada”. Esta tem
sido uma frase recorrente. E vou ficando cansada de repeti-la (com o perdão do
trocadilho cretino). Qual, afinal, é a fonte de tanto cansaço? Excesso continuado
de trabalho, sim. Mas suspeito que não seja apenas isso.
Noutro dia, pensando a
respeito, cheguei à possibilidade de que o cansaço viesse, sobretudo, do
sentimento de injustiça e desalento, de desamparo diante das instituições, da
sensação de vulnerabilidade sem proteção diante das estruturas sociais, do
Estado, dos poderes instituídos.
Byung-Chul Han propõe uma análise
desta que ele chama de sociedade do cansaço, apontando seus vários aspectos e dinâmicas
que resultam na condição de burnout que incide sobre tantas pessoas,
atualmente. Um pensador instigante, autor de uma das leituras mais
interessantes dentre as recentes que fiz. De toda sorte, o escopo de discussão
fica um pouco além do campo da percepção, ou da experiência corporal
propriamente dita do cansaço. Ou seja: configura um conjunto de explicações
racionais para uma experiência corporal e psíquica, no âmbito afetivo.
Temo que Walter Benjamin tenha
acertado com precisão de atirador profissional, quando apontou o cinema cumprindo
uma função pedagógica, no tocante à preparação das pessoas para as situações de
choque da sociedade contemporânea. Ele escreveu o famoso ensaio em que faz tal
apontamento há quase 100 anos, mas continua com uma assustadora atualidade...
Os filmes de ação com
produção norte-americana organizam-se com um percentual menor de diálogos, e,
em sua maior parte, mostram correrias, lutas, fugas, perseguições
intermináveis. Costumo pensar que ser cidadão norte-americano na nação do filme
blockbuster é muito sofrido. Viver fugindo de bandidos, sendo perseguido por
inimigos, sob ameaças de toda sorte, sem tempo para pausas, deve ser muito desgastante,
afinal...
Então me ocorreu que talvez
meu cansaço advenha de um tempo em que tudo acontece como se eu estivesse
dentro de um filme dessa natureza. Não há pausa para digerir as experiências,
para processá-las. Quando começamos a refletir sobre o que se passa, já somos
empurrados a novas e inesperadas situações, com tensão e pressão sempre crescentes.
Alguém pode avisar aos
produtores que não quero mais participar desse roteiro? Alguém pode avisar que prefiro
ser escalada para filmes mais pausados, com espaços vazios, e finais em aberto?
Ah, também prefiro os filmes com orçamentos baixos, mais artesanais, tá?
Nenhum comentário:
Postar um comentário