p/ Carol
Carolina inicia o projeto de um (des)dicionário
colaborativo. Nesse processo, convida pessoas a elegerem um verbete como inspiração, com o qual produzirão uma narrativa. Informada sobre os escritos de minha mãe, fez a
provocação: pede a ela para escrever sobre um verbete?
Expliquei a minha mãe, e perguntei se ela gostaria de escrever alguma coisa sobre um verbete que ela mesma poderia escolher. O que é um verbete? Falei que era uma palavra a integrar o dicionário. Ela disse, então, que poderia escolher o verbete palavra. Posso escrever alguma coisa sobre a palavra?
Rimos. Pode, sim!
Com a saúde fragilizada, depois de uma internação hospitalar longa, no
início de 2016, ela interrompeu a rotina de escrever, como fazia antes. As palavras começam a lhe escapar... Com uma deficiência respiratória
significativa, tem que escolher entre escrever ou respirar... Coisa estranha, essa apneia que ela tem. Respira pouco, curto. E quando se concentra para fazer alguma
coisa, piora tudo: ela para de respirar. Vai daí que o coração trabalha forçado há quanto tempo, e já vai fraquejando
também. Tem, ainda, um barulhão na cabeça. E a memória, também, começa a falhar mais amiúde. Ando tão esquecida,
minha filha, reclama. E anda mesmo. Por isso, imaginei que logo ela se
esquecesse da encomenda, e acabasse não produzindo a tal escrita sobre a
palavra... Por isso, também, passei a insistir, toda vez que falo com ela.
Hoje, pela manhã, não foi diferente.
– Já fez o meu pedido?
– O
que você me pediu, mesmo?
– A senhora disse que ia escrever alguma coisa sobre a
palavra...
– Ah... Tinha me esquecido com-ple-ta-men-te!
– Eu sabia que a senhora
tinha esquecido.
– Está vendo, como eu sou uma mulher sem palavra?
Boniteza. O que dizer mais?
ResponderExcluirE que a palavra regue a vida. E que a palavra respire a vida. Abraços nas Alices e nas Carolinas.