p/ Maria e Thais
A menina saiu do espetáculo de teatro exultante. Levava
consigo, preso a um fio quase invisível, um balão cheio com gás hélio. Esses balões
exercem um encantamento à experiência de crianças e adultos. Talvez por não
levarem em consideração as leis da gravidade, e se desvencilharem dessas
amarras invisíveis que nos matêm aprisionados ao chão. Talvez por serem capazes
de partir. Talvez por nos lembrarem da leveza.
A menina saiu do espetáculo levando um pouco de leveza presa
às suas mãos por um fino e delicado fio. Como esses fios que quase não percebemos, mas estabelecem vínculos de afeto.
No pátio, enquanto as últimas conversas preparavam as
despedidas, a menina observava o movimento das pessoas. O balão flutuava
sobre sua cabeça. Então ela levantou os olhos, e o viu distanciando-se, acima de todos. Por alguns instantes, não compreendeu o que se passava. Em seguida
não quis acreditar. Mas olhou as suas pequenas mãos, de onde se desprendera o delicado
fio, e então caiu em pranto, abraçada ao ventre da mãe.
O balão foi subindo, leve e lentamente, entre a noite sem
estrelas da cidade movimentada. Ela não quis mais olhar.
A mãe amorosa lhe disse que poderiam comprar outro. Naquele momento,
nada a consolaria. O balão comprado seria outro. Aquele que se lhe escapara portava
mais que leveza: estava impregnado das cenas do espetáculo ao qual assistira. Partindo,
levara as histórias para brilhar no firmamento. Não haveria outro.
Talvez, além de portar histórias e leveza, o papel do balão
tivesse sido propiciar a aprendizagem da perda, cuja dor poderia ser amenizada
pelas histórias, pela leveza, mas principalmente pelo tempo...
Olhei a noite, tentando adivinhar o destino do balão. E encontrei-me
criança novamente, olhando na direção da estrada, tentando adivinhar como
seriam os lugares para onde iam aqueles que partiam. Imaginar esses lugares era
também um modo de amenizar a dor da perda, a solidão de quem fica.
Não demorou para que chegasse a minha vez de partir. Pelo caminho, multiplicaram-se as partidas e as perdas. Nem sempre
portadoras de leveza...
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