cenário
Na grande loja de departamentos, entre louças para
sanitários e portas de alumínio, há muitas mudas de plantas para jardim. Samambaias,
palmas, bandeiras brancas, orquídeas. Até mudas de parreiras podem ser
adquiridas a preços razoáveis. Com a aproximação das festas de fim de ano,
dentre as mais populares estão os pés de tuia, em tamanhos entre pequeninos e médios,
com folhas oscilando entre verde escuro intenso e verde abacate.
O pai empurra o carrinho de compras, enquanto conversa com o
filho com cerca de 5 anos. Observa os pés de tuia, analisa alguns, e escolhe um
dos maiores, acomodando-o no carrinho. O menino pergunta: outra árvore de
Natal? Ao que o pai responde: como outra? Então o pequeno explica: mas no ano
passado a gente já comprou uma... agora vamos comprar outra? Pois é, explica o
pai, a do ano passado já não existe mais, vamos comprar outra para este ano.
Lembrei-me da árvore de Natal da minha infância, feita com
galhos secos de goiabeira, enfeitada com bolas de Natal, mas também cascas de
cigarra, pequenas bromélias secas, e outros adornos que íamos inventando no decurso
da vida. A árvore nunca era desmontada. Assim, era sempre Natal no canto da
sala. Ela ia se modificando no mesmo passo com que nós também nos
modificávamos.
Olhei para os pés de tuia, verdes, e pensei no destino provisório
que os aguardava. A árvore que poderiam chegar a ser não se realizaria. Por algum
tempo, seriam suporte para os enfeites das festas, até perecer pela falta de
cuidados como água, terra adubada, luz solar. E então, descartados, seriam
substituídos por outros pés de tuia, no ano seguinte, ano após ano, num tempo
em que tudo, ou quase tudo, se torna obsoleto tão logo comece a existir. Inclusive
as relações entre as pessoas.
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