Quando o ônibus entrou na cidade, vários passageiros
começaram a acionar, por meio de seus smartphones ou iphones, motoristas da
plataforma Uber para, quando desembarcados, seguirem para casa.
Trata-se de uma mudança no comportamento de passageiros, que
migram do tradicional serviço prestado pelas redes de táxi para o inaugural
sistema Uber, mais barato para o consumidor, mais ágil, atrelado às plataformas
digitais acionadas pelos aparatos móveis.
Conheço alguns taxistas que estão já se organizando,
também, para migrar. Depois de muito pesarem os prós e os contras, concluíram
que, feitas todas as contas, os riscos são os mesmos, e talvez os prejuízos
sejam menores. O que muda é o valor, na ponta, pago pelo passageiro.
No serviço prestado pelas cooperativas de táxi, entre o passageiro e o taxista, vários são intermediários envolvidos. Comecemos pela equipe da
base, que atende aos telefonemas dos clientes e encaminha o taxista ao endereço
indicado. Esses funcionários recebem salário fixo mensal, com carteira
assinada, todos os benefícios previstos pela CLT. Seu trabalho não envolve riscos.
Muitas vezes, esses funcionários atendem mal aos clientes, negam informação,
fazem encaminhamentos errados, mas não recai sobre eles qualquer sanção. Contudo,
eles têm autoridade para “castigar” os motoristas, caso estes cometam algum erro no atendimento
às corridas solicitadas. Vale ressaltar que o seu salário é pago pelas corridas
dos motoristas de táxi.
Há os proprietários das frotas de veículos, que cobram
diária pelo uso dos automóveis. O pagamento da diária é pago pelo taxista,
contratualmente, não importando se ele rode ou não, se consiga fazer corridas
ou não. O taxista paga, também, o aluguel da permissão do taxi. Este pagamento,
do mesmo modo, independe de seu desempenho na praça.
De todos estes itens a pagar, se sobrar algum trocado, o
taxista leva para casa, ao final do dia. Uma coisa é certa: diariamente, ele
começa a jornada como devedor, e se dá por feliz se chegar ao final do seu turno com
essas dívidas quitadas. No entanto, todo o sistema só gira a partir de sua
força de trabalho, e dos riscos que esse profissional corre, atuando na ponta,
na frente. O valor da corrida, pago pelo passageiro, vaza pelos dedos, para ser
redistribuído entre o dono do carro, o dono da permissão, o presidente da cooperativa
e os funcionários da base.
O diferencial proposto pelo sistema Uber é que essa relação
é mais direta: o motorista se cadastra, recebe algumas orientações, e passa a constar
entre os que podem prestar os serviços a partir do aplicativo para aparelho
móvel. Também não tem quaisquer garantias. Está sozinho, circulando na cidade, com seu próprio carro, por sua conta e risco. Sim, ele tem
que disponibilizar seu próprio veículo e arcar com os custos de manutenção. O percentual de cada corrida que paga à
empresa lhe assegura apenas o direito de aparecer na plataforma do aplicativo, nada mais. Talvez
haja menos intermediários. Isso resulta num valor menor a ser pago pelo
passageiro. E também numa dívida menor a ser quitada, diariamente, pelo
motorista. Se ele corre, paga, se não corre, não paga.
A plataforma do sistema Uber está no começo. Não nos
entusiasmemos por antecipação. Ainda há espaço para entrarem as intermediações. Nada
impede, por exemplo, que, com a crise chegando à plataforma do serviço de táxis, os donos de
frotas migrem para a Uber também. Há já anúncios de aumento nas tarifas.
Vale lembrar que, quando a GOL começou a operar no ramo da
aviação aérea para passageiros, trouxe uma série de inovações que baratearam as
passagens de modo importante. Mas não demorou para que os valores equalizassem
novamente, e atualmente seus preços estão no mesmo patamar das demais empresas
à época de sua entrada no mercado.
Enquanto isso, por vezes, vou de Uber, no mais das vezes, ainda vou de
táxi...
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