Saí a caminhar pela cidade. Cross urbano em que o
pedestre tem que ir superando todos os obstáculos contra os fluxos de carro,
motos, os temporizadores dos semáforos, cruzamentos sem sinalização...
Num dos cruzamentos, o condutor do carro parou em cima da
faixa de pedestre, para aguardar o sinal verde. Fui atravessando devagar, olhei
longamente a faixa, o carro avançado. Olhei para dentro do carro. Uma mocinha,
linda, esperava para avançar. Você sabe que parou o carro sobre a faixa, não é?
Você sabe que está errada, não é? Ela me olhou, e assentiu com um gesto quase
imperceptível. Na próxima vez, respeite a faixa de pedestres, minha filha!
Acabei a travessia. Não estava irritada. Muitas vezes consigo
me divertir fazendo isso. Foi o caso. Mais adiante, uma longa fila de carros à
espera da luz verde em outro semáforo. No final da fila, um dos carros aguardava
parado sobre a “caixa amarela”. A chamada caixa amarela sinaliza a área dos cruzamentos
onde não se pode parar, para não obstruir a passagem dos outros carros. Um rapaz
conduzia esse carro. Janela aberta. Não me furtei de lembra-lo que estava
incorrendo numa infração. Da próxima vez, meu filho, se lembre que não pode, e
não deve parar sobre esse xadrez amarelo, viu? Ele me olhou, surpreso. Segui minha
caminhada.
Então me ocorreu que falta aos motoristas viver a cidade
como pedestre. Caminhar entre os carros e motos lhes daria uma outra percepção de sua
condição como motoristas. Talvez, a cada 5 anos, quando da renovação da
carteira de habilitação, pudesse ser feito um treinamento, no qual os
motoristas devessem cumprir percursos a pé, nos quais fosse necessário fazer
uso de faixas de pedestres, travessias em cruzamentos com semáforos de 3
tempos, caminhar por calçadas onde há carros estacionados, etc.
Com certeza, uma experiência como essa modificaria o
comportamento dos motoristas na condução dos carros.
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