O menino era o filho mais novo. Por volta dos 10 anos,
perdeu o posto de caçula. Sua mãe, caminhando no campo, encontrou um bebê
abandonado e ferido. A criança tinha o crânio amassado por quem tentara
matá-la, antes de se desfazer dela. Mas foi encontrada, salva e acolhida. O menino
a viu chegar à sua casa, ser cuidada, tratada, ganhar novo fôlego, respirar
para a vida. No entanto, os sinais da tragédia permaneceram: a menina ficou com
uma leve sequela, além de ter as feições deformadas pela cicatriz óssea.
O menino nunca aceitou plenamente a perda do lugar de
caçula para a irmã adotada, e frequentemente andava às turras, resmungando o
fato da mãe preferir a menina a ele. Gostava cada vez menos dela. Revoltava-se
cada vez mais amiúde. Até quando, já adolescente, tendo brigado com ela, declarou
à mãe: “Não entendo porque a senhora
prefere, mesmo, essa menina feia e imperfeita!” A mãe, já cansada de tentar
contemporizar a insatisfação do filho, respondeu impaciente: “Um dia você vai casar, e vai ter um filho
feio e imperfeito!”
Foi uma condenação. Desde aquele dia, começou a sofrer,
temendo o que o futuro poderia lhe reservar. Decidiu que não se casaria. Mas quando
ficou moço, e se apaixonou, mudou de ideia: arriscou-se a casar. No entanto,
temia o dia em que sua esposa pudesse ficar grávida. Ficou. A gestação correu
normalmente. Quando o bebê nasceu, ficou aflito. Olhando pela janela do berçário,
avistou uma sombra no rosto do menino. Concluiu que era uma imperfeição. Saiu desesperado,
ao encontro do médico. Foi difícil convencê-lo que a criança não portava nenhum
problema.
Mais tarde, contou para a mãe o ocorrido, e o alívio ao
constatar que seu filho nascera bem. A mãe assustou-se, pois sequer se recordava
de ter feito tal afirmação. Choraram, ali, mãe/avó e filho/pai, abraçados,
desfazendo todas as angústias que pudessem ter permanecido no decurso do tempo.
A mãe/avó retornou para casa, onde a filha adotiva, feia
e imperfeita, a aguardava. Companheira certa, afeto interminável.
É impressionante o poder de cada palavra e a interferência desta na vida. [sorrio]
ResponderExcluirParabéns pelo blog e pela postagem! Prazer estar aqui! Com tempo, venha ler e comentar INFAUSTA CORRIDA no http://jefhcardoso.blogspot.com
Abraço!