As maiores delícias que encontro na feira não estão nos
sabores, nos cheiros ou nas cores de frutas, legumes, folhagens, doces,
temperos, e outros itens. Essas delícias estão nos falares, nos ritmos das
palavras, no entoado das ideias, no tecido do pensamento. Vou caminhando, com
os ouvidos atentos. Por vezes me aproximo de alguma banca, procurando coisas
que dificilmente estariam à venda, para me deliciar com as respostas. Noutras
vezes, me surpreendem com provocações divertidas, astúcias dos jogos de comprar
e vender.
Na primeira banca, o rapaz vendia um pacote do milho já
cortado por R$ 5,00. Achei caro. Ele me explicou que era o milho de 7 espigas.
Resolvi verificar o preço numa banca mais à frente. Uma senhora miúda,
sorridente, estabeleceu seu preço: R$ 4,00, com o milho de 6 espigas. Fiz as
contas mentalmente. Nesta banca, a espiga saía ao valor de uma dízima
periódica: R$ 0,6666666..., na outra, uma dízima periódica um décimo mais cara:
R$ 0,7666666... Fiquei na última banca. Enquanto a senhora cortava o milho, fui
reunindo as moedas. Pensei em voz alta: “Se eu não encontrar o dinheiro com que
pagar, vou pegar o milho e sair correndo...” Ela riu-se, e me provocou: “Não
precisa! Se não tiver dinheiro, não tem problema, é só vir me ajudar a cascar
esses milho. Num instantinho, paga sua conta”. Depois me olhou, quase séria, e
arrematou: “Só passa fome quem quer, não é?”
Juntei as moedas, que somaram o total de que eu precisava. Ainda não era desta vez que eu iria cascar milho para pagar a conta. Aliás, um milho bem verdinho, tenro, quase doce. Virei freguesa.
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