"A luz é algo tão comum e ao mesmo tempo tão extraordinário, que a visão, o sentido que capta a luz, praticamente nos define. Somos animais visuais, encontramos nosso caminho no mundo não pelo olfato, não pelo tato, tampouco pelo som ou pelo paladar, mas pela visão. E tanto somos animais visuais, que colocamos luzes em todos os lugares que podemos, nos caminhos que percorremos e em nossos abrigos".
Noutro dia, estava pensando sobre a expressão tão
corriqueira “o meu corpo”, e algumas implicações que dela decorrem. Ela subentende que eu
sou uma entidade que possui um corpo. Logo, não sou meu corpo. Perguntei-me, então, o que eu seria, ou desde que lugar do corpo eu pensaria assim? Cheguei a imaginar
que meu cérebro (assim pronunciado - meu cérebro - ele também não sou eu...) pensa como se fosse eu, e percebe o resto do corpo como sua
propriedade, ou extensão. E me perguntei como seria pensar o meu corpo a partir
de outras partes consideradas menos nobres. Por exemplo, como seria pensar meu corpo (continuo pensando meu corpo como algo separado de mim...) a partir dos pés? A primeira
imagem que me ocorreu como resultado dessa indagação foi eu me olhando a
partir dos pés. Ou seja: como resposta, eu imaginei os olhos instalados nos
pés, e a percepção que eu teria de mim mesma a partir desse ponto de vista. Surpreendi-me
com essa resposta. Ora, o status atribuído ao cérebro estaria relacionado à sua proximidade
com os olhos, e ao ponto de vista a partir do qual percebemos a nós mesmos, e
ao mundo como um todo? Afinal, a noção sobre quem eu seja é
definida, em grande parte, pelo ponto de vista a partir do qual eu me percebo
pela visão? E essa definição seria, também, marcada pelo fato da visão estar instalada no alto do corpo? Essa noção seria profundamente
modificada se eu me percebesse desde os pés?...
Nenhum comentário:
Postar um comentário