O casal de quero-queros iniciou o choco de uma nova
ninhada. Ali, acomodados entre a grama seca e rala, sobre a terra ressecada,
calcinada, alternam-se nos cuidados com os ovos. No meio da manhã, o sol já
escaldante, a ave aninhada mantinha o bico entreaberto e as asas desarticuladas
ao lado do corpo, com as penas em desalinho. Dei-me conta, então, que eles
poderiam estar em dificuldades para conseguir beber água. Afinal, não deixam a
área onde está o ninho, e ali não há torneiras, plantas que sejam regadas, ou
algo semelhante. No dia seguinte, levei uma vasilha de cor verde, acomodei
junto ao poste, nas proximidades do ninho, e enchi com água fresca. É claro
que, em pouco tempo, o frescor já se perderia, e a água estaria entre morna e
quente. A ave aninhada ficou muito irritada comigo, fez um escândalo. As corujas
saíram da toca aos gritos, apesar do calor, e o outro quero-quero fez voos rasantes,
ameaçando-me. Cheguei a pensar que talvez eles rejeitassem a água. Mas valia a
pena tentar. No dia seguinte, pelo meio da manhã, fui observá-los de longe. Cheguei
bem à hora de uma troca de plantão entre o casal. A ave que estava aninhada
levantou-se, agitou as asas, sacudiu-se. Enquanto a outra se ajeitava no ninho,
encaminhou-se rapidamente até a vasilha, e bebericou um pouco da água. Ficou por
ali. Bebeu mais um pouco. Só então seguiu para a sombra de um arbusto próximo. Alegrei-me
com a aprovação da minha oferta a eles. Mais tarde, no horário do meio dia,
voltei para colocar mais água, antes de sair para o final de semana. A ave no plantão
irritou-se, como esperado. Mas o calor era tão grande, que ela sequer
levantou-se. Ao contrário, achatou-se rente ao chão, como única reação possível.
Pensei que talvez já não consiga me queixar do clima sem
me lembrar dos dois na empreitada de cuidar da ninhada de ovos, numa situação extrema de calor e seca.
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