domingo, 15 de janeiro de 2012

Mal destes tempos



A recorrência de uma notícia entre pessoas amigas, conhecidos próximos, familiares, me força a pensar sobre o estilo de vida que temos construído nos últimos tempos, que resulta na alta incidência de casos de câncer, nos mais diversos contextos sociais, culturais, e geográficos.

O ano em curso inaugurou-se com a perda de um compadre amigo nosso, enquanto a tia do meu amigo tinha diagnosticado um tumor abdominal. Recebemos, hoje, a notícia de seu falecimento. Entre amigos e familiares de amigos, grande é o número dos que estão, neste momento, na arena de combates, entre tratamentos, todos sofridos, contra algum tumor, algum conjunto de células enlouquecidas, capazes de enlouquecer os organismos.

Tenho ouvido médicos em geral assegurarem que têm conseguido tratar e curar um número cada vez maior de casos de câncer, salvando vidas. No entanto, um número cada vez maior de pessoas próximas tem sido vitimado por essa doença, e muitos têm perdido a batalha, vindo a óbito: diferentes faixas etárias e condições econômicas, residentes em centros urbanos e no campo, variadas formações escolares...

Que complexo de fatores da vida contemporânea é comum a todos esses contextos, e acaba disparando gatilhos capazes de desequilibrar de modo radical o funcionamento das células?

Penso na qualidade dos alimentos que ingerimos, quaisquer que sejam as orientações alimentares. Vegetarianos não podem evitar a contaminação de vegetais por venenos os mais diversos. Mesmo os alimentos orgânicos não estão livres, pois os solos encontram-se em tal estado de impregnação de venenos, que mesmo parte dos lençóis freáticos estão contaminados. Os que usam carne acabam ingerindo teores desconhecidos de hormônios de que sequer se tenha noção, de animais criados em condições as mais adversas. Os produtos industrializados, desses, nunca sabemos ao certo de que substâncias são portadores: pães, farinhas, macarrões, embutidos, bebidas, óleos, congelados, a lista não tem fim. Chamando à cena os produtos industrializados, não podem ficar fora da lista os cosméticos, materiais de higiene, tecidos... (não posso desconsiderar o risco de ficar neurótica, também, pensando nessas listas...)

Afora a questão alimentar, assusto-me com o fato de que nossos corpos, de que nossas células – essas, que de repente podem enlouquecer, e que não queremos que enlouqueçam – são atravessadas por toda sorte de ondas eletromagnéticas, 24 horas por dia – e essa é, definitivamente, uma condição inevitável hoje, quer vivamos nos centros urbanos, quer vivamos em selvas longínquas: telefonia celular, transmissões via satélite, redes de televisão, tecnologias wireless para os mais diversos equipamentos, rádio transmissores, fornos de micro ondas, computadores, e quantas outras parafernálias, quantos itens, de que não abrimos mão, pela comodidade para o encaminhamento de quantas atividades diárias a ocupar nossas agendas sempre tão concorridas.

Ainda mais, quantas partículas pairando na atmosfera são absorvidas pelo nosso corpo, enquanto respiramos, ou pela pele, pela água, as roupas que usamos, e estabelecem relações reagentes com nosso organismo, sem que nos demos conta disso. 


Resta, ainda, acrescentar os níveis sempre crescentes de estresse, decorrentes de múltiplas demandas contemporâneas, profissionais, de comportamento, pressões e expectativas, ansiedades, ambições, medos...

Várias luzes amarelas, de advertência, estão acesas. Avermelhadas, talvez. É preciso atenção crítica ao que estejamos a fazer de nossas vidas. Não basta comprar no mercado o próximo estilo de viver que se anuncia anticancerígeno, ou anti uma série de outros males em curso – não passam de convites do mercado ao próximo cliente consumidor incauto. É preciso o esforço de pensar além desses circuitos. Por certo que nossa ignorância a respeito desses quadros, nos quais estamos imersos  é muito maior do que preferimos acreditar.

Cada vez mais, sou instada a perguntar se o desenvolvimento tecnológico – em todas as suas frentes – leva, de fato, ao desenvolvimento humano, e à qualidade de vida. Uma coisa não supõe a outra. Essa afirmação parece óbvia, mas nossos comportamentos são embalados pela crença e pelo deslumbramento à tecnologia, de modo acrítico no mais das vezes. Chegará o momento de escolhermos entre uma coisa e outra. Ou de decidirmos que só nos interessa aquela tecnologia que de fato assegure melhores qualidades nas relações humanas, do ponto de vista da saúde em todos os âmbitos. E essa decisão precisará ser tomada fora dos tentáculos sedutores da lógica do mercado – se é que podemos nos imaginar fora deles, hoje.

Haverá tempo para tomarmos tal decisão? Teremos a sabedoria necessária e a determinação para tanto?... Faço votos de que sim.

Enquanto isso, seguimos, entre sobressaltados e desconsolados, mas persistentes na esperança de tempos melhores para viver.


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