sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Sobre uma aula de como ser professor, em véspera do Dia dos Professores.


p/ Janaína, menina de belo sorriso e fala sincera,
e Marcelo, testemunha desse momento de aprendizagem.

Do outro lado da sala de aula, a menina me olhou, levantou-se e veio, decidida, em minha direção. Apoiou-se na carteira onde eu estava sentada e perguntou-me:  - "A senhora está aqui para orientar a professora?". Demorei alguns instantes para entender o que ela queria saber. Continuou no seu propósito: - "Fala para ela mudar, fala? Ensina ela? Não dá para ser como ela faz! Ela passa texto toda aula, pede prá gente copiar, e fica na sala, sem fazer nada. Nem conversa com a gente sobre o texto. Só pede pra gente copiar. A gente copia, e ela nem dá moral, nem vale para a nota, para nada...". A professora aproximou-se, mas ela continuou a falar, sem se intimidar. Mas não assumiu qualquer tom agressivo: sua voz era serena, embora firme, e o raciocínio era de uma clareza estonteante. Em poucas frases, a adolescente deu uma aula de didática com a pulsação de quem vive cada dia, cada tempo perdido na escola, cada sonho distanciado pela aprendizagem não construída. Explicou-me, por exemplo, que professor tem que ter autoridade com os alunos. E que autoridade não é grito, mas voz firme, saber o que fazer, propor coisas que façam sentido, e ocupar os alunos todo o tempo. Perguntei-lhe o que ela sugeria que fosse feito. Ela disse que o texto poderia ser explicado pela professora, que poderiam ler trechos juntos, que a professora poderia propor alguma coisa para ser feita ligada ao texto. Depois admitiu que, quando a professora pede que produzam objetos, e desenvolve atividades práticas, a aula é boa, e ela gosta muito. Mas isso não acontece com frequência. A professora ficou por perto, ouvindo a conversa. Depois observou: - "Está aí, fazendo seu relatório, não é?". Ela sorriu: - "Mas é assim mesmo! Pode olhar!".

A chuva caía pesada lá fora, inundando o pátio da escola, fazendo respingos dentro da sala, através dos vidros quebrados das janelas. Ela confessou que só veio à aula para não ter que arrumar a casa. Depois voltou para sua carteira, entre a agitação dos colegas.


Um comentário:

  1. É, se tivéssemos pelo menos uma aluna dessas em cada sala de aula, com certeza a educação seria bem diferente em nosso país...

    A sorte é que ainda existem bons professores, como no site AulaDeQue! Lá o professor divulga sua aula gratuitamente e conquista muitos alunos! O site é http://www.auladeque.com.br.

    Fica a dica!! abraços!

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