Poética da Alteridade - Cor de Burro Quando Foge
Era apaixonado e amigueiro, aquele magenta. Costumava brincar com os vizinhos pigmentos alaranjados e arroxeados, oscilando ligeiramente a tonalidade para lá e para cá. Depois retomava seu eixo, sem perder a referência de sua posição no círculo cromático.
Mas, toda vez que olhava na direção oposta, e avistava o verde, seu tom magenta ganhava em intensidade. Ao mesmo tempo, sentia uma tensão interna, e duas forças simultâneas impeliam-no à rejeição e à atração.
Estranho sentimento, aquele...
Encontraram-se, certa vez. Percebeu, então, que também o verde ficava ainda mais verde, em sua proximidade. Apesar de toda a tensão que os envolvia, arriscavam-se nalgumas aproximações. Tocaram-se, e aos poucos foram diluindo-se um no outro. Desapareceram numa descor. Deveria ser preto, mas as impurezas impregnadas em seus pigmentos só deixou que chegassem a um tom escuro e indefinido. Uma cor suja, diriam alguns.
Cor de burro quando foge, é como definiria minha avó.
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