p/ Albertina Brasil
Durante um evento voltado para artistas portadores de necessidades especiais, visitávamos a exposição do fotógrafo esloveno Evgen Bavcar. Eu me demorei diante de cada imagem, provocada pelas questões às quais ele nos empurrava, sobre o ato de ver, de produzir imagens, sobre a experiência estética.
Ela entrou na sala de exposições, completou o circuito rapidamente, emitiu seu parecer numa sentença breve: “Muito bom!”. Já ia se retirando, quando eu a interceptei à porta: -“Você já conhecia? Sabe quem é?” Não sabia, nunca vira... Então eu pronunciei as palavras definitivas: -“É cego...” Cego? Um fotógrafo? Voltou para a sala, e olhou, inconformada, cada fotografia, perguntando-se como poderia ser, aquilo?
Dez anos se passaram desde então. Agora era ela quem propunha performance e exposição na galeria universitária. Surpreendi-me com a notícia de que um acidente vásculo-cerebral a deixou surda. E ela tornou-se amarga e ácida, no trato pessoal como em sua produção artística.
Saudades do porte galante, sedutor e vaidoso de Bavcar.
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