sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Oráculo pós-moderno, discípula rebelada



Na era em que a palavra de ordem é a comunicação e as redes de compartilhamento de conhecimento, informação, experiências artísticas, acervos culturais, processos de socialização, entre outros, os centros gerenciadores dos sistemas de comunicação assumem papel central na vida dos cidadãos, regendo-as em boa parte. É nesse cenário que os call centers, os centros de telemarketing, os sistemas de atendimento por telefone, além das páginas de internet destinadas ao relacionamento com o cidadão, nos portais de empresas que negociam os mais variados itens, ocupam lugar inevitável para o encaminhamento de quantos itens do quotidiano contemporâneo: da mercadoria danificada entregue pelos serviços de correio, ao serviço de reclamação do consumidor; dos pacotes de serviços oferecidos por redes bancárias a cidadãos que não os pediram, à contratação de seguros de vida, de carro, de imóveis, e outras providências; dos canais das redes de televisão a cabo, aos serviços de telefonia e rede de computadores.

Cada cidadão que transite pelas ruas dos centros urbanos, e mesmo os que se distanciam nas regiões rurais, rendem-se diariamente ao culto que devem aos novos oráculos, que lhes custam caro, com valores desdobrados em prestações intermináveis. E os portais de atendimento tomam a forma de rituais sofisticados e misteriosos, que se, por um lado, anunciam a intenção de resolver questões aos consumidores, e garantir sua satisfação (o que é altamente duvidoso...), por outro lado os mantêm à distância, sem acesso direto ou indireto a sacerdotes e sacerdotisas, e aos representantes da transcendência pós-moderna, os que ocupam os postos mais altos das hierarquias dessas neo-religiões.

De minha parte, confesso uma incompetência que não tenho sido capaz de superar, e da qual não tenho conseguido me livrar: a de me relacionar com esses oráculos. Toda vez que sou levada a consultá-los, por telefone ou internet, sou impregnada dos sentimentos de impotência e raiva, que me empurram à desrazão. Invariavelmente, vejo-me incapaz de compreender e me fazer compreender – o que é condição, aliás, para que qualquer circunstância comunicacional ocorra. Os protocolos são fechados, neles não cabem questões não previstas – por eles – e, a cada passo, ocorrem mais imprevistos do que situações previstas. Os atendentes – noviços das diversas seitas dominantes – só sabem dar (ou só seriam autorizados a dar...) uma resposta para uma questão. Todo desvio deve ser direcionado para outro setor, e as chances de novos direcionamentos são sempre grandes. Da mesma maneira, são grandes as possibilidades de que não se consigam resolver os problemas. Estes, por sua vez, sofrem expansão significativa quando o assunto está no campo da própria telefonia, atendido nos portais telefônicos...

No meu sonho, o Paraíso é um lugar sem portais para atendimento aos consumidores por telefone ou por internet. A comunicação entre as pessoas é direta, interlocutores olham-se nos olhos, ouvem-se as falas reciprocamente. Em espaços abertos, negociam-se prioridades, desejos, interesses, devaneios... É possível, mesmo, que nem se tenha inventado, ainda, a energia elétrica...



Um comentário:

  1. BRAVO!
    Abaixo a VIVO!
    Tive problemas com ela recentemente. Liguei de casa. Veredicto: é necessário ir à loja. Fui à loja e, pasmem, me colocaram em um telefone no canto da loja. Após quarenta minutos pendurado ao telefone tantando ser atendido, eis que ouço o implacável oráculo: o sistema caiu, ligue novamente daqui a 24 horas.
    Esse dia senti falta do pombo correio! rsrsrsrsr

    bjs, tia, e bom domingo!

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