As elites (e aqueles que se abrigam nas suas sombras...) não são afeitas às rodoviárias. Tampouco aos seus usuários.
No plano original, Brasília tinha uma única rodoviária, bem no centro, onde o Eixo Monumental e o Eixo Rodoviário se cruzam, tendo a máquina de Estado de âmbito federal, com a Esplanada dos Ministérios, o Congresso e os Palácios da Justiça de um lado, e a Torre de TV, e toda a estrutura do Governo do Distrito Federal do outro.
Dali daquele ponto zero, saíam os ônibus urbanos, e os interurbanos, aqueles cujo destino era logo ali, e os outros cuja viagem só findaria depois de dois dias na estrada. No início dos anos 80, parti, dali, para muitos pontos no país, entre eles, São Paulo e Recife.
Mas logo a demanda aumentou muito, e os fluxos se tornaram muito mais intensos do que a estrutura física suportava. Então retirou-se a parte dos ônibus interurbanos para a antiga Estação Ferroviária, que passou a se chamar Estação Rodoferroviária. No centro, ficaram apenas os ônibus de circulação urbana - inevitáveis, para pesar das estruturas de poder então instauradas...
Na Estação Rodoferroviária, ainda havia movimento com o trem de passageiros, que ligava Brasília a Campinas, além dos trens de carga. Por isso, ao espaço para embarque e desembarque de passageiros dos ônibus foi designado o subsolo. Os ônibus vinham pela via, e mergulhavam por baixo da construção. Lá, num túnel pouco iluminado, acotovelavam-se passageiros e seus acompanhantes, gente que veio se despedir ou acolher as gentes que partiam ou chegavam. Resfolegavam o ar impregnado de monóxido de carbono emitido pelos motores dos ônibus, em funcionamento. Além disso, tinham que enfrentar longas escadarias com toda a bagagem acima, ou abaixo, pois nem sempre as escadas rolantes estavam funcionando. E os carregadores de bagagem se esbaldavam com a situação.
Com a interrupção do transporte de passageiros pelas vias férreas, a plataforma superior passou a ser ocupada pelos ônibus e seus passageiros, libertados da caverna. Mas a estrutura da Rodoferroviária já estava muito deteriorada, com infiltrações, pequenos desabamentos, muita sujeira... Além do que, a plataforma superior era desprotegida, deixando seus usuários vulneráveis aos ventos, chuvas, frio, e toda sorte de intempéries. E violência.
Durante mais de duas décadas, enquanto a elite chegava e saía da cidade pelo aeroporto, a população, que move a cidade quotidianamente enfrentava a travessia da Rodoferroviária para chegar e partir.
Durante mais de duas décadas prometeu-se a construção de uma rodoviária digna para os habitantes da capital federal.
Finalmente, para marcar os 50 anos da cidade, construiu-se a nova Rodoviária interurbana! Ao lado de uma estação do metrô, nas cercanias de um grande centro de compras, um hipermercado, às margens do anel rodoviário da cidade. Tudo parecia concorrer para não só para a solução dos problemas, mas para a melhor delas.
O chão com pedra polida rebrilha sob as rodinhas das malas e outras bagagens; num painel imenso uma fotografia panorâmica da cidade encanta os visitantes, animados em fotografar a fotografia. Algumas poucas lojas cobram preços exorbitantes pelos seus itens disponíveis aos consumidores-viajantes. E começam, aí, a aparecer os problemas em nova versão...
A estrutura física da nova Rodoviária é leve, e parece querer escapar à função que lhe foi atribuída, voando para o alto. Com as bordas mais altas, e rebaixada ao meio, as áreas de embarque e desembarque são vulneráveis às intempéries do clima... Em períodos de festas, quando há maior movimentação, falta espaço para que os ônibus possam estacionar para os desembarques. Forma-se uma fila que se estende até à via do anel rodoviário, fora da área da Rodoviária. O trânsito tumultua-se, por que o estacionamento para o público em geral também é pequeno, insuficiente. As vias de acesso são confusas, obrigando o usuário a fazer muitas voltas, caracóis entrelaçados, até acabar de chegar, ou sair. O estacionamento é cobrado por hora, e a tolerância, na entrada, é de apenas 5 minutos. A taxa de embarque, para os que partem, é paga em separado das passagens, em dinheiro vivo, sem recibo ou nota fiscal. As roletas eletrônicas, que deveriam computar o número de passageiros em trânsito, não funcionam. A violência urbana também já se instalou ali também, e não se vê a presença de policiamento e outras formas de proteção aos usuários. Finalmente, a vizinhança com o metrô, que facilitaria o deslocamento dos chegantes, mostra-se uma novela à parte: o usuário, portando suas bagagens, deve seguir por uma passarela incapaz de protegê-lo sol, da chuva, do vento; ao final da passarela, deve descer um pequeno conjunto de degraus, atravessar a rua movimentada em mão dupla, subir uma longa escadaria, para só então ter acesso à estação.
Em tempo: a estação do metrô e o centro de compras são interligados por uma passarela suspensa, totalmente protegida, com vista panorâmica, pela qual os consumidores podem ir e vir, com suas sacolas cheias de mercadorias...
Eu sou frequentador quinzenal da rodoviária interestadual. minhas reclamações vem desde sua inaugoração... a frustração maior é sabe que de nada adiantou ter reclamado tanto. A propria ANTT me tratou co o maior descaso...desabafei sobre isso no meu blog na época http://escrevimentosagno.blogspot.com/2011/03/resposta-da-antt-uma-reclamacao-minha.html
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