Para Cleomar
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O menino correu, soltando a linha, e logo a pipa alcançou regiões com boas correntes de vento. Ficou lá, tremulando no céu de fim de tarde. Então o menino prendeu a garrafinha, onde amarrara a ponta da linha, e foi apreciá-la, de longe. Melhor, foi me ajudar a empinar a minha, que é desajeitada, e teima em não subir. Até que ele conseguiu: minha pipa subiu até certa altura, mas depois embicou para baixo, e fez um mergulho quase suicida. Frustração, a minha. Foi quando nós dois olhamos, e a pipa dele estava indo embora: deslocava-se rapidamente, cada vez mais alta, cada vez mais longe. A certa altura, deixou de se afastar, e ficou ali, fazendo um oito imenso no céu. Repetindo o sinal de infinito, na beira do infinito...
Era de se supor que a garrafinha tivesse se enroscado em algum lugar. O menino correu, correu, com o coração a sair pela boca, até encontrar a garrafa ancorada ao transformador de alta tensão de um poste de luz! Além disso, a linha estava enroscada numa árvore vizinha. Ficamos os dois ali, olhando a pipa voando, e a garrafinha no poste. O que fazer? Se cortássemos a linha, a pipa estaria perdida para sempre. Se a deixássemos ali, quando o vento cessasse, ela cairia nas mãos de alguém que não um de nós dois.
Quando duas pessoas ficam olhando muito para o céu, logo a elas se reúnem outras pessoas também a olhar na mesma direção. Foi o que aconteceu. Entre esses, estava o nosso herói, mestre em questões relativas a pipas, arraias, pandorgas, papagaios, e congêneres. Desses meninos que já nascem com taboca, papel de seda e linha 10 na mão. Ele pegou a minha linha, amarrou a ponta numa chinela que encontrou ali por perto. O menino da pipa segurou a garrafinha onde a linha estava enrolada, o mestre atirou a chinela por cima da linha que sustentava a pipa. Depois, foi trazendo para si a linha, aos poucos, com cuidado, para não cortá-la com o atrito. Já com a linha da pipa na mão, iniciou a segunda fase do resgate, e a mais admirável, no quesito habilidade no manejo da linha. Ele foi tracionando a linha, e puxando a pipa, até conseguir desenroscá-la da árvore. Depois, continuou controlando seus movimentos, de modo que não se enroscasse mais no poste, ou nas fiações. Até que ela veio ao chão.
Já era noite, e a lua brilhava no céu.
E o brilho da lua, cada vez mais intenso,foi refletido em nossos olhos, que antes estavam entristecidos pela tarde, com pouco brilho, mas depois alegrados pelo resgate, que não foi só da pipa...
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