quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O poder num aceno da mão



Eu deveria ter por volta de uns 5 anos. Toda vez que íamos da fazenda para a cidade, ficávamos à beira da estrada, aguardando a jardineira. Quando ela apontava, no horizonte, eu ficava ansiosa, agitada. Em alguns instantes ela se aproximava, e minha mãe me afastava da estrada, enquanto meu pai acenava, para que ela parasse. O gesto de meu pai era seguro, largo. E o motorista acionava os freios, parando para que pudéssemos embarcar.

Meu desejo era também fazer parar a jardineira, apenas com o aceno da mão. Quando pudesse fazer isso, já seria forte o bastante para encarar o mundo. Mas esse tempo se demorava a chegar, e minha mãe sempre me afastando da estrada no momento exato!

Num início de noite, na cidade, voltávamos a pé para casa. Minha mãe e minha irmã conversavam, e eu ia, pulando, à frente. Quando me dei conta, havia me afastado delas um pouco mais, e avistei um carro que se aproximava de nós. Não tive dúvidas: a hora era chegada! Parei à beira da via, e executei o gesto tantas vezes repetido por meu pai, sob minha atenta observação. Não me contive de alegria quando o carro parou! Eu dominava o código, e tinha o poder!

Minha mãe correu, pediu desculpas ao motorista, justificou que era arte de criança, me olhou com ares de repreensão, e me trouxe de volta para perto dela. Eu me sentia um pouco maior do que era de fato. E degustava a conquista.


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