Tornar público o que é privado, espetacularizar o que é
íntimo, revelar o que é secreto: essa, a obsessão da cultura contemporânea,
midiática, tecnologizada. Também reside aí, nessa obsessão, um paradoxo
insolúvel. São recorrentes os filmes, noticiários, ensaios fotográficos, pesquisas
acadêmicas que anunciam trazer à visibilidade práticas secretas, rituais
proibidos, eventos tradicionalmente restritos a poucos. A adjetivação secreto ou proibido parece provocar o desafio que leva à investida com vistas à
exposição espetacular. Ao fazê-lo, corrompe-se o princípio organizador da prática, ritual
ou evento, fazendo com que se torne apenas mais um espetáculo a ser
consumido, e em seguida descartado, para dar lugar à próxima revelação...
Na contramão dessa tendência, mas igualmente revestidos de modismos, comparecem movimentos e aconselhamentos que anunciam a necessidade de se
manterem discrições sobre certas práticas. Tais discursos lembram, por exemplo, a importância, para a
vida psíquica e cultural das pessoas, o desenvolvimento de práticas que escapem aos
tentáculos espalhados em todos os lugares de câmeras e outros mecanismos
capazes de captar, reproduzir, multiplicar e disseminar imagens, dados,
informações, narrativas sobre quaisquer fatos. Nesse caso, o paradoxo está no
fato de os indivíduos que se dispõem a desenvolver tais práticas, mesmo certos
da necessidade de que sejam discretas, secretas, privadas, não resistirem ao
impulso de publicá-las, com o intuito de compartilhar a experiência,
demonstrando aos demais serem capazes de realizar coisas fora do circuito da
hiper exposição.
Paradoxais, estes tempos...
Make public
what is private, change in spectacle what is intimate, revealing what is
secret: this is the obsession of contemporary, mediatic e hightec culture. Here
is, also, in this obsession, an insoluble paradox. There are a lot of movies,
news, photographic essays, academic research that advertise to bring to
visibility covert practices, forbidden rituals, events traditionally restricted
to few. The adjectives secret or forbidden seem to provoke the challenge that
leads to the onslaught with the spectacular display views.
Against
this trend, but also coated with fads, attend counseling and movements that
advertise the need for maintaining descriptions about certain practices. Thinking
on the psychic and cultural life of the people, such speeches emphasizes the
importance of the development of practices that escape to tentacles spread
everywhere and other cameras able to capture, reproduce, multiply and
disseminate images, data, information, narratives about any facts. In this
case, the paradox lies in the fact that individuals are willing to develop such
practices, even certain of the need to be discreet, secret, private, did not
resist the urge to post them in order to share the experience, demonstrating to
others being able to accomplish things outside the circuit of hyper exhibition.
Paradoxical,
this time ...
Would have we
lived any time who wasn't?
Parabéns!... Que mistér maravilhoso o 'fazer pensar' !...
ResponderExcluirBoa reflexão.
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