Comprei o livro Pedagogia profana: danças, piruetas e mascaradas, de Jorge Larrosa, pela
internet. Mal o recebi, comecei a devorá-lo. Mergulhei no primeiro capítulo, esquecida de tudo à volta. Terminada a página 32, deparei-me com uma segunda folha
de rosto em lugar da página 33. Do outro lado, outra ficha técnica, outra ficha catalográfica. Novo
sumário. O livro recomeçava naquele ponto. Demorei-me para compreender o que
ocorria. Tive que fazer um esforço para emergir da leitura envolvente, e compreender as
características físicas do livro que me causavam não só estranhamento, mas a
obstrução no prosseguimento da leitura. Pensei que, se o livro recomeçava ali, teria em dobro
todas as páginas até a de nº 32, e talvez a leitura pudesse ser retomada
normalmente a partir dali, avançando pelas páginas 33, 34, e assim por diante. Poderia
ser. Mas não era. Da segunda página 32, a numeração saltou para a página 65.
Providenciei, de pronto, a digitalização das duas páginas
32, e enviei as imagens anexadas a uma reclamação formal para a livraria, reivindicando outro exemplar sem defeito. Depois
retomei a leitura do livro, da página 65 em diante. Fui lendo quase de um fôlego só. No último capítulo, sobre
as imagens do estudar, no qual o autor trata dos livros, das palavras sábias, da
Casa de Estudo, d’Os-que-sabem, e da necessidade de se abrirem vazios entre os livros e as palavras, assaltou-me uma dúvida: talvez eu devesse mesmo ficar com este exemplar defeituoso, fracassado, que, em sua incompletude
escancarada, abre espaço onde eu possa me perder...
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