terça-feira, 27 de agosto de 2013

Sobre os letreiros projetados no telão, ao final do filme


Mal as luzes foram apagadas e as imagens começaram a jorrar sobre o telão, imersa no escuro, deixei-me levar pelo ritmo, pela dança das personagens, pelas luzes, pelas falas, pela música, pela história do filme, durante os quase 120 minutos. Esqueci-me do lugar onde estava, abandonei os sentidos ao conforto da poltrona, e fui seguindo o caminho apontado pelo cineasta. Findo o tempo diegético, os créditos do filme ocuparam o lugar da projeção, enquanto uma música prolongava as últimas impressões da narrativa. Rapidamente o público levantou-se e começou a sair da sala, enquanto os créditos ainda eram projetados, e a música continuava plangendo acordes pela sala. Algumas luzes foram acesas, e a sala saiu das sombras, para um ambiente de meia luz.

Aos poucos, todos saíram, e eu fiquei só na sala, enquanto os créditos continuavam a ser projetados. Um grupo de mulheres começou a recolher copos e outros objetos deixados pelas pessoas, que haviam comido pipocas e tomado refrigerantes durante a projeção. A sala precisava ser limpa para a próxima sessão. Na tela, depois de serem informados os nomes dos diretores, roteiristas, produtores, assistentes de direção, elenco principal, figurantes, direção de arte, fotografia, e outros profissionais que formam o time mais importante na realização de um filme, foram informados os maquiadores, os maquinistas, os motoristas, técnicos em geral, locações...

Meu olho corria, notava um e outro nome. Pensei que o ritual do cinema cuida de registrar os créditos de todos os operários da indústria de contar histórias com imagens sonoras em movimento. Mas ao público não interessa saber as funções mais humildes, mas não menos importantes, dessa usina. Interessa-lhes saber o nome do filme, do diretor, dos atores protagonistas, na melhor das hipóteses...

Mas dei-me conta, também, de que, ao observar os letreiros correndo no telão, ao som das últimas melodias que compõem a trilha sonora, faço o movimento de volta do tempo diegético para o tempo do quotidiano. A porta de retorno. A pausa necessária para degustar as impressões deixadas pela narrativa, e me recolocar nos dias e nas veredas que percorro pela cidade, pela vida. Levando, comigo, os ecos daquela história. De todas as histórias: essas que vivi, essas que ouvi, todas elas, que fazem parte de mim...




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