ou Um quarteto fantástico em minha vida
Para Aninha, Lílian e Christina,
e para Julinha que hoje faz
aniversário.
Sou privilegiada por ter quatro amigas que, nascidas em
épocas e lugares distintos, são portadoras do mesmo brilho nos olhos, da mesma
inquietude, de espíritos irmãos.
A mais menina delas é Aninha, com quatro anos. Mais menina? Pensando melhor, acho
que não... na verdade, a referência à idade cronológica não terá serventia para este
relato. Sobre Aninha, então, vale dizer que é magricela, tem os cabelos longos
e cacheados, saltita e conversa o tempo todo. A mãe lhe pediu, numa ocasião,
que ficasse sem falar um pouquinho, pois estava sentindo necessidade de
silêncio. Aninha fez um esforço sincero e amoroso. Passados alguns instantes,
abraçou a mãe e cochichou ao ouvido que não conseguia controlar a boca
querendo falar o tempo todo...
Aninha reinventa tudo à sua volta. Se não tiver
brinquedos, ela pode dançar, traçando desenhos imaginários no ar. Afinal, o
mundo pode ser um brinquedo. O mundo-brinquedo-de-Aninha, aliás, o mais interessante!
Da última vez que a vi, ao despedir-se, falou-me que seu
aniversário estava ainda longe, mas queria que eu prometesse ir à casa dela
para comemorarmos. Senti-me abraçada por Aninha, minha amiguinha.
Julinha, minha segunda amiga querida das quatro que lembro neste
texto, faz aniversário hoje. Como Aninha, tem cabelos longos e cacheados, e é tagarela
e inquieta. Pensando bem, acho que também tem por volta de uns quatro anos, ao
menos na energia, no brilho dos olhos, na vontade de desvendar o mundo. Essa a razão
de andar por aí, empunhando uma câmera, a captar a humanidade das pessoas, os
sentidos do viver. Mas é na capacidade de indignação que Julinha tem mais
prática que Aninha. Os grandes olhos se enchem d’água, e a voz embargada
reclama da insanidade do mundo, do desamor das pessoas, da falta de justiça. Na verdade, Aninha também sente desconfortos com isso tudo, mas não sabe ainda falar sobre o desconforto, e manifesta-se com resmungos incertos, que os adultos preferem qualificar como manhas de criança. Em Julinha, a intensidade da indignação é a mesma do seu amor e disposição para viver e transformar esse mundo. O mundo-brinquedo-de-Aninha
é também o lugar de construção, de expressão, de experimentação sensível para
Julinha.
Experimentação sensível, construção, estabelecimento de
redes de relação: o mundo-brinquedo-de-Aninha quase chega a ser pequeno para
Lilian, com seu espírito e seus olhos de quatro anos. Os cabelos..., bem, seus cabelos são longos,
bastos e belos. Terão sido, algum dia, cacheados? Não importa. Lilian, minha
querida amiga que integra o quarteto das meninas brinca consigo, com o Jotinha, seu cão golden retriever, e com o mundo, e estabelece relações
numa teia que, ao mesmo tempo, inclui, se estende, se multiplica, replica... Com o
entusiasmo partilhado de Aninha e Julinha, labirinticamente ela vai falando, contando,
lembrando. A certa altura já nem sei quem sou, onde ela está,
do que estamos falando! Mas sigo, junto, porque confio nela, como confio em Aninha e Julinha. Além do mais, é divertido, é sensível, é denso. E fala ao coração. Como a dança de Aninha, e as
fotos-grupos-perguntas-capacidade-de-indignação de Julinha.
Em meio a isso tudo, é com minha querida menina Christina que fecho este quarteto, compartilhando perguntas sobre o mundo, o mundo-brinquedo-de-Aninha (ou seria sobre os mundos?)... hummm... talvez sejam as representações possíveis sobre os mundos... quem sabe as perguntas devam ser sobre nossas projeções a reconfigurar o que supomos sejam os mundos articulados em representações a serem verificadas por perguntas como a que Aninha faz a todo instante: por que? Do mesmo modo que Aninha, Christina não consegue parar: as perguntas lhe brotam aos jorros, como a própria vida. Mas não se iludam: Christina pode, momentaneamente, abandonar as perguntas sem respostas, com uma cambalhota metafísica no pensamento, para cantar um refrão de rock, enquanto marca o ritmo com o corpo dançante, pronto a fazer desenhos imaginários no ar.
Um dia nos encontraremos, as cinco, para brincar e tagarelar, assim, soltas, sem compromissos com a razão, com as normas da ABNT, ou com as regras da escola. Tenho a impressão de que podemos, sim, fazer do mundo (ao menos o nosso mundo) um lugar mais lindo de se viver.
Em meio a isso tudo, é com minha querida menina Christina que fecho este quarteto, compartilhando perguntas sobre o mundo, o mundo-brinquedo-de-Aninha (ou seria sobre os mundos?)... hummm... talvez sejam as representações possíveis sobre os mundos... quem sabe as perguntas devam ser sobre nossas projeções a reconfigurar o que supomos sejam os mundos articulados em representações a serem verificadas por perguntas como a que Aninha faz a todo instante: por que? Do mesmo modo que Aninha, Christina não consegue parar: as perguntas lhe brotam aos jorros, como a própria vida. Mas não se iludam: Christina pode, momentaneamente, abandonar as perguntas sem respostas, com uma cambalhota metafísica no pensamento, para cantar um refrão de rock, enquanto marca o ritmo com o corpo dançante, pronto a fazer desenhos imaginários no ar.
Um dia nos encontraremos, as cinco, para brincar e tagarelar, assim, soltas, sem compromissos com a razão, com as normas da ABNT, ou com as regras da escola. Tenho a impressão de que podemos, sim, fazer do mundo (ao menos o nosso mundo) um lugar mais lindo de se viver.
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