Desci pela longa escada, para ter acesso à Secretaria de Cultura, do GDF. Sempre gostei de descer ou subir aqueles degraus, ao longo do paredão inclinado, que parece dar sequência à parede norte da estrutura piramidal do Teatro Nacional. O percurso integra aqueles que parecem saídos de alguma história fantástica, de algum filme demodê. Por isso, cheguei na plataforma inferior com o espírito contagiado pela sensação de ventura, de alegria.
À portaria, o guarda foi gentil, indicando o guichê onde eu deveria dar entrada à documentação. Subi os lances da escada. O guichê desejado não era o indicado, mas outro. Fiquei ali, esperando. Três funcionários conversavam, ao fundo da sala, um rapaz novinho lia um folheto de propaganda. Ficou ali, lendo, por algum tempo. Depois me olhou, levantou, meio sem vontade, e veio me atender. Expliquei o que precisava fazer, entreguei toda a documentação, que ele levou, devagar, para um dos funcionários ao fundo da sala. O mais velho olhou para mim, pegou os documentos, e seguiu para uma mesa. Conferiu as diversas folhas, preencheu o recibo, carimbou, assinou, protocolou. O rapaz me trouxe o pedacinho de papel. Perguntei-lhe como eu poderia acompanhar a solicitação, e se havia previsão para sair o resultado. Ele me disse que isso não era com eles, e que eu buscasse o atendimento do setor pleiteado para saber. E apontou a porta.
Dirigi-me ao local indicado, onde dois rapazes aguardavam, em frente a um guichê. Não avistei ninguém na sala. Fiquei por ali, esperando. Olhei expositores, livros, fotografias, folhetos diversos. Retornei. Perguntei se eles já tinham sido atendidos por alguém. Disseram que sim. Um tempo depois, um rapaz veio, de outra sala, informando que o processo deles já estava em curso. Em seguida, entrou na sala. Os rapazes saíram. Ninguém veio até o guichê. Um jovem saiu da sala, e eu lhe pedi a informação. Ele sorriu, respondendo que trabalhava ali só há três semanas, e por isso não sabia responder à minha questão. Já às beiras da irritação, pedi que ele, então, fizesse a consulta a quem soubesse responder. Ele determinou que eu aguardasse, quando ele voltasse o faria. E se retirou.
Então o funcionário que dera a informação para os dois rapazes apareceu, e eu lhe repeti a pergunta. Ele me disse que aquele assunto não era da competência de seu setor, que todas as informações estariam disponíveis pela internet, e que eu tratasse de buscar na rede de computadores o que eu queria saber.
Sentindo que eu precisava manter a cabeça fria, não reagi de acordo com a vontade que me tomava as células àquele momento. No entanto, também, não fiquei ali, ouvindo aquilo tudo até o final. Despedi-me abruptamente, e fui fazendo o caminho de volta. Saí pela portaria, onde grupos de funcionários conversavam animadamente no calor vespertino. Subi a longa escada do paredão lateral, afastando-me dali, degrau a degrau. O vento bateu refrescando o calor causado pela subida longa e o sol escaldante de três horas da tarde.
Segui ao encontro do meu amigo Chiquinho, o Chiquinho da Livraria do Chiquinho, na Universidade de Brasília. Em meio ao maravilhoso caos de suas instalações, conversamos sobre livros, pessoas, histórias de vida. Saí de sua pequena loja com o humor restaurado. Mas essa é uma outra história, que merece um texto exclusivo.
Quanto à Secretaria de Cultura? Bom... enquanto estiver em mãos de funcionários que executam suas competências com desvontade... enquanto se confundir cultura com burocracias e processos administrativos... enquanto os gabinetes estiverem distantes de onde os fazeres e os saberes fermentam... enquanto tudo acontecer assim, continuaremos desconfortavelmente nos sentindo meio desamparados, meio violados, quase desesperançados pelas políticas públicas...
PS.: Em tempo, preciso fazer uma ressalva, para não ser injusta. No mesmo dia, pela manhã, procurei atendimento nas instalações do Na Hora. Todo o procedimento foi ágil, as pessoas foram gentis, as informações necessárias foram prestadas, e as relações não foram impessoais, ao contrário. Saí dali sentindo-me respeitada, contente.
Imagine isso tudo decuplicado quando você, já o projeto aprovado, necessita fazer alterações, ajustes ou esclarecer dúvidas... Evito ao máximo frequentar a pirâmide da má burocracia. Mas sempre que é necessário ir lá eu tomo um copão de maracujina e peço aos deuses que me multipliquem por mil a paciência para não rodar a baiana naquelas intermináveis e infrutíferas esperas e desistir de vez do projeto... Por sorte ainda existem essas ilhas de esperança no bom senso da humanidade, como a livraria do Chiquinho...
ResponderExcluirPor sorte a cultura vai sendo alimentada por encontros especiais, pessoas especiais como o Chiquinho, e como você, meu querido.
ExcluirSaudades!
Excelente texto-reclamação-e-elogio!... Essa área tem mal crônico,de comunicação e atendimento ao público,a considerarmos que a demanda é baixa,em relação ao 'Na Hora',por exemplo.Infelizmente,não é o pior... Tem outras áreas do GDF,bem piores,infelizmente...Ouvidoria,Corregedoria,nêles!...Já o antológico Chiquinho,esse mereceria elogios a cada turma formada na UNB,em razão e função da sua onipresença na vida acadêmica da maioria dos alunos pobres e dos demais.Super Chiquinho!...Parabéns solidários!...
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