quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Cyrano de Bergerac, o cambacica, e algum sentido para o mundo...


De tempos em tempos me lembro de um diálogo antológico, de Cyrano de Bergerac, no romance intitulado Histoire comique des états et empires de la Lune, escrito em 1656, publicado no Brasil com o título Viagem aos impérios do Sol e da Lua. Ali, a personagem principal é prisioneira entre habitantes da Lua. Um dos companheiros de cela acusa a espécie humana de ser a mais soberba dentre as espécies animais, e defende a ideia de que todos os serem vivos sentem e pensam, até mesmo um pé de couve, ainda que não disponham dos mesmos recursos humanos para se expressar e defender seus pontos de vista. 

Cyrano de Bergerac é, ele próprio, uma personagem extraordinária, trazida ao conhecimento do grande público no texto de teatro escrito por Rostand há pouco mais de um século. Essa história foi, posteriormente, adaptada para o cinema em algumas versões bem populares. 

Em seus escritos, Bergerac faz um esforço bem interessante de deslocamento de pontos de vista: tenta imaginar sociedades fora do ambiente terrestre, e evocar reflexões como essa, que envolve o pé de couve. Não consegue, contudo, muito sucesso no projeto de escapar às malhas da velha visão de mundo européia, e suas instituições seculares, que pretende criticar.

Ah, o velho Savinien de Cyrano de Bergerac... 

Enquanto penso nesse lunático (no melhor dos sentidos!), ali, do lado de fora da janela, num galho da árvore, um passarinho bem pequenino canta e saltita... É um cambacica. A minha máquina fotográfica tem dificuldade para ajustar o foco automático, tão pequeno o espaço que ele ocupa no escaneamento da objetiva, com distância focal ajustada em 200mm. O trinado da avezinha enche a manhã. Pelo menos a minha manhã, que se inunda de som, sol e movimento. 

E, por um instante, o mistério se realiza. Durante uma fração de segundo, eu consigo perceber uma fração de sentido para a vida, e experimento uma breve lufada de felicidade. 

Em seguida, a pequena ave voa, levando consigo o sentido, qualquer um que fosse...



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