sábado, 27 de julho de 2013

Habitantes do Morro do Além

ou
Exercícios de alteridade

Para Cleomar,
Menino do Castelo, que fez aniversário.

Com os três filhotes já crescidos, o casal de suindaras deixou o quinto andar do Castelo do Menino, para se instalar nas árvores retorcidas no alto do Morro do Além, de onde observam o movimento, a cidade, e rastreiam, sem margem de erro, presas para seu jantar.

Nas cercanias, no oco de uma árvore caída, vive um coelho branco. À noite, passeia nos arredores, deslocando-se rapidamente entre os arbustos rasteiros. Durante o dia, recolhe-se para longe dos perigos de se tornar um apetitoso assado, ou dos raios de sol a ameaçar o pêlo albino. Por vezes, chega a passar três dias sem ser avistado. Estará do outro lado, no Mundo de Alice, ou nalgum outro de que ainda não se tenham notícias?

O Menino (que diz ter completado 38 anos, mesmo sob os protestos veementes das corujas ante tal informação...) saltita de alegria ao vê-lo. Quando tem tempo, deixa maçãs e torradas à porta do oco da árvore, sob os olhares atentos das suindaras. Depois volta para seu Castelo, de onde se vêm as luzes da cidade cintilando, e se ouve o eco dos gritos da família notívaga.


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