A Menina morava com uma tia, que tinha uma pequena pensão. Para pagar a hospedagem, ela ajudava em todos os afazeres: Menina, leve isto para Fulano! Menina, traga aquilo para mim! Menina, arrume todos os quartos! Lave a louça! Já lavou os penicos?
A Menina, guriazota, obediente, tinha créditos na casa. Todos entendiam que ela era a mais correta, que não fazia artes, nem mentia, além de estar sempre pronta para o serviço, qualquer um que fosse. Por isso mesmo, era a única digna de fazer a tarefa, talvez, mais doce: buscar no depósito o açúcar para encher o açucareiro.
Toda vez que seguia para buscar o açúcar, saía, da cozinha, cantarolando uma música qualquer. O depósito era pouco iluminado. Não importava. Ela conhecia bem a disposição da mobília, e podia localizar o açúcar de olhos fechados. Seguia com a música, agora emitida pelo nariz. Pegava um punhado de açúcar e enchia a boca. Ia degustando os grãos doces, enquanto ainda emitia a música anasalada, e enchia a vasilha para a tia.
Atenta, na cozinha, a tia ouvia a música, e pensava que esse sinal era a garantia de que a menina não comia do açúcar. Por isso confiava nela.
Num desses dias, ela entrou no depósito, encheu a boca com o punhado de açúcar, para depois encher a vasilha. Mas foi surpreendida com formigas cabeçudas que também visitavam o depósito. Muitas. Algumas delas vieram no punhado que gulosamente atirara à boca, e grudaram-se picando seus lábios e língua. Ela saiu cuspindo açúcar pela casa afora, gemendo de dor.
Perdeu créditos, perdeu a função... além de levar uma surra...
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