À noite, no céu sem nuvens, as estrelas brilhavam sem pulsar: pareciam economizar energias para atravessar a temperatura em queda. Esse era um dos sinais legíveis a anunciar a geada.
Pela manhã, o sereno congelado cobria as plantas e outras superfícies com uma camada branca translúcida. E o frio penetrava todos os vãos. Apenas dois lugares eram guardiões de algum calor acolhedor: as cercanias do fogão a lenha, e a água do poço.
Para quem não sabe, o poço mantém a água sempre numa temperatura estável. Quando do lado de fora fica frio, a água parece aquecida. O contrário também acontece: no calor, a água é deliciosamente fresca.
Por isso, no inverno, o balde trazia, da profundeza, uma água fumacenta, deliciosamente morna. Depois de usada, quando jogada no chão, ainda pela manhã, logo se transformava numa placa de gelo.
Só perto do meio dia é que os raios do sol começavam a nos aquecer. Então eu subia a escada estrategicamente apoiada nos galhos de um pé de vergamotas. Por aqueles dias, elas estavam já bem maduras, a cor alaranjada da casca fofa, o perfume impregnando as mãos, o doce da fruta madura. Eu ficava lá em cima, misturada às folhas da árvore, degustando os gomos, sem pressa. De lá, eu podia ver o gelo do telhado derretendo, também sem pressa, e gotejando na beira da casa.
Inverno é assim, tem cheiro e gosto de vergamota, e na pele o calor morno dos raios do sol.
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