quarta-feira, 3 de julho de 2013

Elena...


Ontem fui assistir ao filme Elena, de Petra Costa, trabalho que recebeu vários prêmios, na categoria documentário.

A voz de Petra, que narra, falando diretamente à irmã, é melancólica, quase monótona. Aí reside uma das fontes de sua força. É preciso força para trazer à tela imagens, sons, frases que dão feições a uma experiência traumática. É preciso coragem. É preciso sensibilidade para transmutar a experiência sofrida em obra sensível, e encontrar, nela, a humanidade que pode ser partilhada com os demais.

Não, não consigo pensar o filme como um documentário. É certo que o mercado precisa encaixa-lo nalguma categoria para enfia-lo nas prateleiras diversas, à disposição do público. E como se trata de uma narrativa sobre percursos vividos por pessoas que têm certidão de nascimento, endereço, carteira de identidade, e traz depoimentos, fotografias, documentos, então é, automaticamente, conduzido a essa categoria.

Mas o filme é muito mais que isso. Trata-se de um poema autoetnográfico, de caráter existencial. Um ato de maturidade e sensibilidade. Um mergulho em dores que latejam, que latejarão sempre, como possibilidade de que sejam lavadas, e assim alentadas. Afinal, mesmo as memórias mais difíceis, a água pode dissolver...

Elena: poema audiovisual sobre memórias de dor



Um comentário:

  1. Excelente comentário crítico!... Nada a acerescentar,óbviamente.Mas,chamou-me a atenção,quando o ví, o fato de não haver qualquer 'debate'em mais possível análise,ao final da projeção dessa bela jóia...E,claro, o assistí na Sala da Sec. de Cultura,aberta a um Público acostumado a 'filmes-cults' e assemelhados... "...vai um açaí,depois?!...',foi o único questionamento audível,depois ,já do lado de fora da sala...Pena.

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