Há algum tempo, uma psicanalista me perguntou se eu ria o tempo todo, acreditando que, vivendo em boa companhia, eu teria motivos para tanto. Olhei para ela, sorri amarelo, e preferi silenciar, em meio ao burburinho do evento onde aconteceu tal interpelação. Mas pensei quem ri o tempo todo é hiena, e não é de alegria! Passei, também, a duvidar da sua formação psicanalítica.
Desde então, vez por outra, a sua pergunta ressoa em minha memória, e eu respondo, com veemência, não, eu não rio o tempo todo!
Aliás, eu quase sinto mais dor que alegria, mais angústia que deleite.
Talvez a psicanalista em questão acredite que o palhaço não despregue da pele sua personagem, sem entender que a máscara risã esconde profunda tristeza - e essa afirmação chega já até a ser um clichê.
Não, eu não rio todo o tempo. E choro mais vezes do que possa deixar transparecer.
A propósito:
...
Máscaras.
Tenho uma coleção de máscaras.
Para cada ocasião, um papel,
a cada papel, uma composição especial.
Nem sempre convincente na interpretação das personagens,
a atuação impressiona principalmente pela qualidade das máscaras.
Durante anos, as tenho confeccionado,
nas noites vazias,
no vácuo dos dias sem sentido.
Feitas com minha pele e meu sangue,
expressam meu medo e minha impotência,
que transfiguro em gestos de gentileza,
suposta cordialidade.
Minhas máscaras a rebordar meu rosto,
a recompor minha forma,
a repintar minh'alma.
Eu mesma.
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