segunda-feira, 1 de abril de 2013

dia da mentira


Passei o dia matutando. Brinquei com várias pessoas com quem convivo quotidianamente. Mas o dia não estaria ganho se não conseguisse dribá-la. Ela, a minha mestra primeira, quem me ensinou que não se pode deixar este dia passar em branco. No entanto eu tinha um dilema pela frente: precisava encontrar uma forma de brincar, com cuidado, pois, nos seus 85 anos, poderia ficar ansiosa além da margem de segurança à sua saúde. 

À noite, quando cheguei em casa, encontrei a solução. Liguei para ela. Conversamos sobre amenidades. Como foi o dia, se dormiu bem à noite, estava calor, choveu, etc. No meio da conversa, introduzi a informação a senhora não sabe o que aconteceu: perdi todos os pasteizinhos... Coloquei um tom de queixa na minha fala. Ela perguntou como, minha filha? Expliquei cheguei ontem e esqueci fora da geladeira; a noite e o dia foram quentes; quando cheguei agora, estavam azedos... 

No domingo, ela investira a manhã inteira na função de fazer os tais pasteizinhos assados. Quando saí para casa, me entregou uma embalagem com quase todos eles. Agora eu lhe dizia que os perdera.

Ela estranhou um pouco que coisa, aqui em casa os que sobraram também ficaram fora da geladeira, e não estragaram. Aí é mais fresco que aqui, expliquei. E acrescentei não comi nenhum, pois deixei para comer hoje, quando chegasse do trabalho. Senti que ela ficou inconformada. E então ela me perguntou o que você vai comer, minha filha? Eu ri e respondi pastel, minha mãe. Você comprou outros pastéis? Ri de novo, não, bunitinha, os seus, porque o problema deles era primeiro de abril. Ela ficou brava, falou alguns desaforos para mim, e rimos, muito. Você me pegou!

Essa é, sempre, a melhor parte da história. Não importa o grau de complexidade da mentira. Importa que você crie um enredo qualquer, e consiga envolver a outra pessoa no enredo. Envolver alguém numa mentira, no primeiro de abril, é quase uma declaração de afeto. Porque supõe risos, alegria, jogo, prazer. Ela me ensinou a aproveitar essa data para brincar. Ensinou, também, que é preciso ter cuidado com quem se brinca, e que o prazer deve ser mútuo, caso contrário, não vale a pena.

Que sejam muitos, e divertidos, os dias da mentira!




4 comentários:

  1. Respostas
    1. Literatice barata, na melhor das hipóteses, meu querido!

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  2. Linda,a estória-vivida,essa sua!... E,lindinha,ela.e sua preocupação com a idéia de 'todo-mundo-de-prato-vazio',jamais!...KKKKkkkkkkkkkk!!!...Lindo,o texto,e o estratagema,claro...

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