sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Vingança definitiva



Ela decidiu terminar o noivado que já durava quase dois anos. Foi até a roça onde morava o noivo, e tentou explicar que o noivado tinha sido um erro, mas que ainda estava em tempo de evitar um erro maior que seria casar, etc. Ele quis saber quem era o outro, com quem ela andava se engraçando, e ela explicou que não havia ninguém, que era ela mesmo que não queria mais casar. Ele não aceitou, tentou convencê-la a recuar na decisão, a ficar ali com ele. Mas ela estava determinada, e depois de muita discussão, voltou para casa. Sentia-se aliviada pela decisão, mas sabia que não seria fácil lidar com a questão, até ele se conformar. Mas um dia haveria de se conformar, afinal não era nenhuma criança, pensava.

Nas semanas que se seguiram, não teve um dia que ele não a procurasse, e a pressionasse para reatarem o noivado. Ela permaneceu irredutível.

Mas, nos últimos dias, ele parecia ter sossegado. Não aparecera na cidade, tampouco a havia importunado. Ela chegou a pensar que, finalmente, poderia retomar a normalidade da vida.

No sábado, foi almoçar na casa de uma amiga, a mãe e os irmãos foram visitar uns parentes na cidade vizinha. No comecinho da tarde, ele chegou à casa dela. Entrou pelo pátio chamando seu nome. Caminhou pela varanda ampla, que tinha um pé direito alto. No oitão constatou que a casa estava vazia. Cumprimentou a senhora da casa ao lado. Conversaram um pouco. Ela contou para onde a ex-noiva tinha ido. Ele conhecia a casa. Seguiu, a pé mesmo, os dois quarteirões. Bateu lá. A amiga veio atender. Ela lhe pediu que deixasse a ex-noiva em paz, que parasse com aquilo. Mas ele explicou que era isso mesmo o que ele queria, encerrar aquele assunto, deixar tudo para trás. Ela animou-se e chamou a amiga, que veio ouvi-lo. Então ele desfiou o que tinha a dizer: que ela ficasse tranquila, que ele a deixaria em paz a partir daquele dia, que não mais a procuraria, que ela podia seguir sua vida, e coisa e tal. Como sinal material de sua decisão, lhe entregou uma rosa vermelha. Ela pegou a rosa, entre desconfiada e feliz. Mais feliz que desconfiada.

Depois ele tomou o caminho de volta, e ela ficou ali, aliviada com o desfecho da história. Repisou o assunto com a amiga durante mais um par de horas, e decidiu voltar para casa. Queria estar lá para contar tudo à mãe, quando chegasse com os irmãos do passeio.

Ultrapassou o batente do portão quase distraída. Olhou as florinhas do jardim, achando que estavam ainda mais lindas. Levava a rosa vermelha na mão. Só então deparou-se com o corpo dele balançando, dependurado por uma corda amarrada a um dos caibros mais altos da varanda. Enforcara-se, o desgraçado, ali, na sua casa!

A pobre infeliz passou mais de ano em tratamento, internada numa clínica psiquiátrica. Nunca mais foi a mesma. Nunca mais conseguiu se libertar dele.


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